De sensores para reduzir as necessidades de energia das máquinas até um concreto menos poluente, a Inteligência Artificial (IA) pode contribuir para descarbonizar a indústria?
Essa é a aposta de diversas empresas. Algumas companhias emergentes, como a americana Watershed, a alemã Carbme e a francesa Greenly, propõem medir e reduzir as emissões de gases de efeito estufa nas indústrias.
Para além do ChatGPT, que gera polêmica, o uso da IA tem várias aplicações, em particular para proporcionar maior rastreabilidade, elemento principal da descarbonização.
Nesse contexto, a IA pode desempenhar um papel importante, avalia Geoffroy Petit, especialista no tema para a empresa BearingPoint.
“Uma de suas funções é sua capacidade de reconstruir parte dos dados, e projetá-los para proporcionar estimativas sobre as emissões relacionadas a um produto que sejam as menos equivocadas possíveis”, explica.
Porque, embora as empresas possam facilmente saber o que emitem diretamente, é menos evidente com as emissões indiretas, incluindo as de seus fornecedores.
“A IA poderia ajudar a dizer para as empresas: “O que você está fazendo para descarbonizar sua frota de veículos está correto. O problema está no modelo de negócio, que se baseia na entrada de produtos dos quais não controla o balanço de carbono em seus armazéns”, detalha Léo Génin, consultor ambiental na BearingPoint.
Um ponto que está longe de ser insignificante, como indicado por um recente relatório da consultoria Capgemini, é que as emissões indiretas representaram no ano passado 92% das emissões totais registradas pelas empresas europeias pesquisadas.
A IA, no entanto, também pode ser usada para outros fins, como melhorar os processos de fabricação dentro de uma planta.
“Graças aos dados coletados, é possível identificar as razões pelas quais a produção está indo bem ou mal”, afirma Paul Pinault, um dos responsáveis pela Braincube, uma empresa francesa que oferece soluções digitais para empresas. Isso permite avaliar, através de milhões de dados, quais serão os processos industriais que consomem menos energia.
Algumas indústrias embarcaram no processo, como a empresa francesa Suez com seu programa Aquadvanced, para otimizar a gestão das redes de água, ou a empresa alemã Siemens, com um dispositivo para medir as emissões ao longo de toda a cadeia de valor. A empresa americana Meta colaborou com a Universidade de Illinois no ano passado no desenvolvimento de um algoritmo para criar concretos menos poluentes.
Além da descarbonização de processos e produtos, a IA também pode ajudar na tomada de decisões empresariais.
Por exemplo: Se uma empresa deveria demolir um prédio e reconstruí-lo com materiais mais ecológicos ou reutilizar parte do local e reconstruir a outra parte com materiais reciclados?
O setor digital representa entre 3% e 4% das emissões de gases de efeito estufa no mundo, de acordo com um relatório da Agência de Transição Ecológica (Ademe) e da Arcep, autoridade reguladora das telecomunicações, na França.
“A questão do retorno do investimento, do ponto de vista ambiental, dessas infraestruturas digitais em relação aos benefícios e promessas envolvidas ainda é algo pouco verificado atualmente”, alerta Génin.
Além disso, é necessário que as empresas estejam dispostas a implantar as ferramentas, com potenciais custos adicionais a curto prazo.
Os especialistas apontam para uma mudança de mentalidade, embora lenta.
“Antes, as empresas nos procuravam dizendo: ‘Tenho um problema de qualidade para resolver’. Hoje, elas dizem: ‘Tenho um problema de qualidade e também quero medir meu impacto ambiental'”, destaca Pinault.
Para motivar as empresas, o ideal seria que as medidas ambientais resultassem em economia. “Quando se combinam os aspectos financeiros e climáticos, as empresas tomam decisões muito mais rapidamente”, afirma Petit.
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