A nova exposição da Tate Modern, “Electric Dreams”, desafia a ideia de que a inteligência artificial (IA) é uma ameaça existencial para a criatividade. Pelo contrário, os organizadores defendem que a IA deve ser vista como uma oportunidade pelos artistas.
Catherine Wood, diretora de exposições e programas do museu, explica que a mostra explora a relação de décadas entre arte e tecnologia, enfatizando a inevitável conexão entre esses dois mundos. Abrindo em 28 de novembro, “Electric Dreams” reunirá mais de 150 obras de 70 artistas globais.
“Não é uma conversa nova”, afirma Wood. “A tecnologia não é uma ameaça existencial para a criatividade. Artistas e humanos lutam com essas questões há muito tempo. Queremos mostrar uma visão ampla sobre os impactos sociais, existenciais e artísticos do uso da tecnologia na criação artística.”
A exposição apresenta tecnologias de décadas anteriores, inclusive peças nunca antes vistas no Reino Unido, como a “Light Room (Jena)” de Otto Piene, que usa luz para criar “esculturas” em um ambiente escuro.
“Electric Dreams” começa nos anos 1950 e abrange a era pré-internet. Mas, segundo Wood, os artistas já demonstravam preocupações bem contemporâneas sobre o uso e a posse da tecnologia.
“A arte nunca se limitou a criar imagens e figuras. Todos os artistas da exposição lidam com sua própria existência. A tecnologia é uma ferramenta, uma extensão, e a mostra se concentra em como esses dois elementos se fundem”, destaca Wood.
A exposição traz obras surpreendentemente atuais, como as pinturas de Harold Cohen criadas por “máquinas de desenho” usando a tecnologia AARON, considerada a primeira IA para criação artística.
Também há peças imersivas de artistas como o venezuelano Carlos Cruz-Diez e a dupla alemã Monika Fleischmann e Wolfgang Strauss, precursores das exibições de realidade virtual. Assim como o trabalho imersivo contemporâneo, esses pioneiros foram acusados de seguir uma moda passageira. No entanto, Wood argumenta que eles estavam na vanguarda do que era possível e permanecem relevantes.
“Na época, o trabalho de Harold Cohen foi considerado superficial e marginalizado. As pessoas estavam desconfiadas, mas, olhando de agora, ele foi um verdadeiro pioneiro e visionário”, diz Wood sobre o artista que representou a Grã-Bretanha na Bienal de Veneza de 1966.
“A nova geração não vai crescer pintando em telas. Eles estão totalmente envolvidos no ambiente digital e podem se inspirar nesses artistas que exploravam a tecnologia em um estágio inicial, bem mais rudimentar.”
Outros artistas têm um toque contemporâneo não pelo tipo de obra, mas pela abordagem. Wood cita o exemplo de Atsuko Tanaka, cujo “Electric Dress” de 1956 é uma das peças mais antigas da exposição. Ele demonstra a audácia e o pioneirismo dos artistas japoneses em criar novos estilos.
“Em parte, era a tecnologia do Japão, mas também a atitude”, observa Wood. “O grupo Gutai, do qual Atsuko fazia parte, transformava o processo de criação artística em um espetáculo teatral, tornando-o visível de uma forma que parece filosoficamente natural em nossa era de compartilhamento nas redes sociais.”
Wood revela que um dos maiores desafios na montagem da “Electric Dreams” foi fazer a tecnologia antiga funcionar. A equipe de mídia baseada em tempo da Tate precisou restaurar o hardware, incluindo as máquinas de desenho de Cohen.
“Exige muito cuidado”, diz ela. “É preciso questionar se preservamos o objeto à custa de sua funcionalidade. Precisamos que essas obras funcionem e sejam interativas.”
O debate sobre inteligência artificial e arte é polêmico. Vários processos coletivos ocorreram nos EUA por artistas que acusam empresas de IA de usar seu trabalho, muitas vezes sem permissão.
Este ano, Ai Weiwei declarou ao jornal The Guardian que a arte facilmente replicada por IA é “sem sentido”. Questionada se isso se aplica a grandes mestres com estilo definido, como o cubismo, Ai Weiwei afirmou: “Tenho certeza que se Picasso ou Matisse estivessem vivos, eles abandonariam a arte. Seria impossível para eles pensarem da mesma forma.”
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