Inteligência Artificial

Estudo afirma que inteligência artificial pode prever orientação política através de reconhecimento facial

Publicado por
João Caminoto

Num estudo publicado pela revista American Psychologist, pesquisadores afirmam que a inteligência artificial (IA) pode ser usada para prever a orientação política de uma pessoa com alto grau de precisão, simplesmente analisando seu rosto neutro e sem expressão.

Essa revelação pode levantar sérias preocupações sobre o uso do reconhecimento facial em contextos políticos e sociais, e as implicações éticas que acompanham essa tecnologia. A informação foi publicada pela Quartz.

Metodologia e Resultados

Para elaborar o estudo, os pesquisadores do Graduate School of Business da Universidade de Stanford, dos Estados Unidos, recrutaram 591 participantes que responderam a um questionário detalhado sobre suas crenças políticas. Em seguida, os participantes foram fotografados com expressões neutras, e seus rostos foram analisados por um algoritmo de IA desenvolvido pelos pesquisadores. O algoritmo, treinado em uma base de dados de rostos e suas respectivas orientações políticas, foi capaz de identificar a orientação política dos participantes com precisão surpreendente, mesmo quando fatores como idade, gênero e etnia foram controlados.

Para elaborar a base de dados, os investigadores estudaram as “diferenças entre os contornos faciais médios” dos “homens e mulheres mais liberais e mais conservadores” e integraram esta investigação nas suas análises. De acordo com esta análise liberais e conservadores têm morfologias faciais marcadamente diferentes. Os liberais têm “faces inferiores menores” e “lábios e narizes [que] estão deslocados para baixo” e queixos que “são menores” do que os conservadores, escrevem os pesquisadores. Os investigadores repetem a conclusão chave mais tarde: “os liberais tendiam a ter rostos mais pequenos”.

Os investigadores justificam esta avaliação apontando para as formas como as expectativas sociais relativas à aparência física podem influenciar o desenvolvimento da personalidade:

a aparência facial pode moldar traços psicológicos…As pessoas concordam amplamente quando julgam a orientação política a partir dos rostos (Todorov et al., 2015). Independentemente de tais julgamentos serem precisos, o efeito da profecia autorrealizável (Merton, 1936) postula que as pessoas percebidas como tendo um atributo específico são tratadas de acordo; internalizar tais atribuições; e, ao longo do tempo, podem envolver-se em comportamentos consistentes com as percepções dos outros (Slepian & Ames, 2016). Por exemplo, pessoas com mandíbulas maiores, muitas vezes percebidas como mais dominantes socialmente (uma característica associada ao conservadorismo político), podem ao longo do tempo tornar-se ainda mais dominantes.

Os pesquisadores sugerem que a correlação entre características faciais e orientação política pode ser explicada por uma combinação de fatores. Primeiro, as expectativas sociais em relação à aparência física podem influenciar o desenvolvimento da personalidade, levando a diferenças sutis na morfologia facial entre grupos políticos distintos. Segundo, as próprias características faciais podem influenciar como as pessoas são percebidas e tratadas na sociedade, o que pode, por sua vez, moldar suas crenças e comportamentos políticos.

Privacidade e democracia

A capacidade potencial da IA de prever a orientação política de uma pessoa com base em seu rosto tem implicações significativas para a privacidade, a liberdade de expressão e a democracia. Essa tecnologia poderia ser utilizada para discriminar indivíduos com base em suas crenças políticas, restringir o acesso à informação e silenciar dissidentes.

Mas, atenção:

  • É importante ressaltar que o estudo da Universidade Stanford se baseia em uma correlação estatística entre características faciais e orientação política, e não em uma relação causal. Ou seja, o estudo não demonstra que as características faciais determinam a orientação política de uma pessoa, mas sim que existe uma associação entre esses dois fatores.
  • A precisão do algoritmo de IA utilizado no estudo ainda precisa ser validada em outros estudos com amostras maiores e mais diversas.
  • O uso do reconhecimento facial para fins políticos levanta questões éticas complexas que precisam ser debatidas e analisadas de forma aprofundada.
  • É necessário estabelecer diretrizes e regulamentações claras para o uso do reconhecimento facial em contextos políticos e sociais, com foco na proteção da privacidade, da liberdade de expressão e dos valores democráticos.
  • A sociedade civil, o setor privado e os governos devem trabalhar juntos para garantir que a IA seja desenvolvida e utilizada de forma responsável e ética.
  • É fundamental promover a educação sobre os riscos e benefícios da IA, e incentivar o debate público sobre o uso dessa tecnologia.

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João Caminoto

Jornalista com mais de 30 anos de experiência, ocupei diversos cargos - desde repórter, passando por correspondente internacional até diretor de redação - em diversas casas, como o Estadão, Broadcast, Época, BBC, Veja e Folha. Me sinto privilegiado em ter abraçado essa profissão. Apaixonado pela minha família e pelo Corinthians.

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