Governança do metaverso no World Economic Forum 23

No mês passado, lideranças do mundo todo se uniram em Davos, na Suíça, durante o Fórum Econômico Mundial e, como já era de se esperar, o metaverso foi uma das pautas principais. Da monetização à segurança de dados, diversos aspectos da “próxima versão da internet” apareceram nas discussões, mas foi a governança do metaverso que predominou nas conversas, principalmente quando se falou sobre a democratização de acesso a essas novas tecnologias

Publicado por
Sílvia Piva

O desenvolvimento de um metaverso universal, acessível a todos, foi um dos grandes desafios destacados no evento. A chefe de Estratégia e Inovação Governamental dos Emirados Árabes Unidos, Huda Al Hashimi, abordou o tema e alertou que tornar a experiência acessível para todos é caro e isso não deve mudar tão cedo:

”Isso exigirá que os governos sejam proativos na compreensão das oportunidades e dos desafios dos ambientes virtuais interconectados. A nova tecnologia também exigirá o desenvolvimento de novos recursos e, principalmente, uma abordagem diferente das regulamentações conhecidas”

Definindo e construindo o metaverso

Criada em 2022, a iniciativa “Defining and Building the Metaverse” apresentou seu primeiro relatório durante o Fórum. O documento destaca a necessidade de agilizar o desenvolvimento de sistemas de governança claros para reger o metaverso e elenca como principais frentes a interoperabilidade e a democratização do acesso à nova tecnologia.

Metaverso ganha protagonismo em Davos (Reprodução Twitter/World Economic Forum)

A seguir, apresento um resumo dos pontos principais do relatório, apontados como caminhos para compor uma futura estrutura de governança para o metaverso.

Um metaverso interoperável e, antes de tudo, humano

Quando se fala em interoperabilidade do metaverso, estamos falando da capacidade de o usuário transitar livremente entre diferentes metaversos, com uma experiência amigável e segura. Para que isso seja uma garantia, será necessário colocar o ser humano no centro — tanto do desenvolvimento da tecnologia como na construção das estratégias de regulação e governança.

Essas definições devem priorizar o bem-estar de todas as partes interessadas, com escolhas de design que que não marginalizem ou excluam desnecessariamente populações com base em privacidade, segurança ou preferências de proteção. O projeto de interoperabilidade deve, também, considerar privacidade, segurança e proteção infantil.

Alfabetização digital para potencializar a segurança

Investir em alfabetização acerca do metaverso será indispensável para permitir experiências seguras e interoperáveis. Serão necessárias abordagens multissetoriais para ampliar o conhecimento (tanto conceitual quanto técnico) sobre o novo ambiente, a fim de aumentar a segurança e potencializar a experiência dos usuários. Se o ecossistema não estiver com conhecimentos  e boas informações, não haverão interações adequadas e seguras.

Design ético desde a concepção

Para que o metaverso consiga, realmente, ser esse ambiente virtual seguro, acessível e interoperável, serão necessárias decisões estratégicas desde a sua concepção, que passam pelo desenho ético dessa tecnologia, com escolhas significativas e oportunas, considerando de que forma acontecerão as práticas de intercâmbio de dados, de participação, de agência e de decisões de gestão. Padrões, melhores práticas e outras formas de orientação só são produtivos se agregarem valor à resolução de preocupações identificadas e estabelecidas.

O momento ideal para regulação existe?

Intervenções incompletas e/ou regulamentações apressadas podem implicar em compensações significativas, que podem sufocar inovações de mercado e travar o desenvolvimento da plataforma. A regulamentação tardia, por outro lado, também pode resultar em complicações ao cumprimento de normas técnicas. Certos casos requerem intervenção precoce ou regulamentação, particularmente em segurança infantil e casos de uso médico.

O metaverso enquanto hipótese

Vale lembrar que o metaverso é uma hipótese e não devemos lançar prematuramente uma tese sobre o que ele será. A Meta quando lançou em 2021 sua ideia de metaverso iniciou um processo de colonização no imaginário coletivo sobre o que ele pode ser. Mas não devemos nos restringir a essa opção. Sua dimensão além de maior, poderá transformar estruturalmente nossa percepção de mundo, nosso comportamento, formas de conhecer, além da indústria, serviços e os grandes investimentos que irão acontecer ao redor dessa evolução.

Seja como for, o metaverso, se considerado como uma evolução da internet, deve ser para todos, aberto, saudável e com o uso para o bem. E para isso, felizmente, os debates já estão começando.

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Sílvia Piva

Sílvia Piva é advogada, mestra e doutora em Direito pela PUC-SP. Entusiasta das tecnologias, ela é pesquisadora da FGV e PUC-SP sobre Tecnologias Emergentes, Tecnofilosofia, Ética e Regulação. Além disso, a advogada é uma das fundadoras do Ex nunc metaverse, o primeiro metaverso jurídico do Brasil. Piva ainda integra um escritório de advocacia e é líder do hub Nau d'Dês.

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