A Índia possui pelo menos 120 idiomas e outros 1.300 dialetos locais. Com o governo reconhecendo somente 22 línguas oficiais, a Microsoft pretende utilizar a iniciativa 'AI For Good' para quebrar essa barreira linguística.
O governo indiano opera principalmente em apenas duas: Hindi, falado principalmente no norte da Índia, e inglês. Isso exclui dezenas de milhares de indianos que não falam nenhuma delas.
Dessa forma, entra em cena a iniciativa ‘AI for Good’ da Microsoft — o programa abrangente da gigante da tecnologia que tenta usar a inteligência artificial para resolver problemas na saúde, proteção ambiental e desenvolvimento humano.
A empresa utilizou a Índia para testar várias aplicações inovadoras dessa nova tecnologia, como um aplicativo que utiliza IA para informar aos agricultores o melhor momento para semear ou um modelo que usa imagens de satélite para prever como um desastre natural pode afetar uma população vulnerável.
No entanto, a Microsoft e seus pesquisadores de IA estão particularmente interessados em enfrentar os desafios linguísticos da Índia, esperando que isso possa desbloquear avanços em outros lugares. “A complexidade da Índia a torna um campo de testes para configurações multilíngues em todos os lugares”, diz Ahmed Mazhari, presidente da Microsoft para a Ásia. “Se você pode resolver e criar para a Índia, então você pode resolver e criar para o mundo.”
O chatbot Jugalbandi, lançado em maio de 2023, é um dos principais projetos da ‘AI for Good’. O chatbot é direcionado a agricultores rurais – especificamente aqueles que vivem em áreas que não falam as línguas mais populares da Índia – e desejam aprender ou acessar serviços públicos, como se candidatar a uma bolsa de estudos.
O Jugalbandi utiliza um grande modelo de linguagem, desenvolvido em colaboração com o laboratório de pesquisa local AI4Bharat, para analisar uma pergunta, descobrir a informação relevante e gerar uma resposta fácil de entender na língua local do usuário. Atualmente, o Jugalbandi pode traduzir 10 das 22 línguas oficiais da Índia.
Outra iniciativa da Microsoft chamada VeLLM, ou “Empoderamento Universal com Modelos de Linguagem Grandes”, visa melhorar o funcionamento do GPT, o modelo desenvolvido pela OpenAI que sustenta o ChatGPT, ao usar línguas menos populares. A maioria dos modelos de linguagem grandes hoje funciona melhor em algumas línguas globais principais — principalmente inglês e chinês — devido à grande quantidade de dados disponíveis nessas duas línguas. É mais difícil treinar IA em línguas chamadas de “poucos recursos”, onde os dados são escassos ou inexistentes.
O VeLLM é a base para outros experimentos com IA, como o Shiksha, um bot de IA generativa que ajuda professores a criar novos currículos rapidamente em línguas não inglesas, liberando mais tempo para o ensino.
Os engenheiros da Microsoft, como Kalika Bali, pesquisadora principal da Microsoft Research India, são cautelosos em relação a soluções tecnológicas que não refletem a vida dos indianos que vivem em áreas rurais.
A Microsoft, é claro, não está interessada apenas em IA pelo seu potencial social. A gigante da tecnologia dos EUA está desenvolvendo seus próprios produtos de IA, hospedados em seu sistema de computação em nuvem Azure. Também é uma apoiadora fundamental da OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT. O entusiasmo em torno da IA impulsionou as ações da Microsoft em 65% no último ano, elevando seu valor de mercado para US$ 3 trilhões, tornando-a a empresa mais valiosa dos EUA.
Mahzhari vê muitas oportunidades para a Microsoft na Ásia, onde há “um incrível ritmo de mudança e transformação em todas as indústrias e geografias”. Ele destaca vários exemplos em que empresas asiáticas recorreram aos serviços generativos de IA da Microsoft: a Lazada, plataforma de comércio eletrônico do sudeste asiático de propriedade da Alibaba, usou ferramentas da Microsoft para criar o primeiro chatbot de comércio eletrônico no sudeste asiático.
Mesmo que os experimentos da Microsoft na Índia não tragam benefícios diretos para o resultado final da empresa, eles fornecem lições importantes para o futuro. “Nossas parcerias sob a ‘AI for Good’ e outras iniciativas piloto nos permitem captar sinais antecipados para avançar a segurança e a proteção da IA”, diz Mahzhari.
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