No alvorecer da Inteligência Artificial (IA), a história da invenção da bomba atômica, contada em "Oppenheimer", pode servir como um "alerta" para a humanidade, adverte o diretor do filme, Christopher Nolan.
“A irrupção de novas tecnologias é algo que acontece constantemente em nossas vidas e muitas vezes elas nos faz temer o que pode vir junto com elas”, continua o cineasta, durante um encontro com a imprensa em Paris.
“Acredito que muito disso provém da história de (Robert) Oppenheimer”, o físico que inventou a bomba atômica na Segunda Guerra Mundial.
“Oppenheimer”, de três horas de duração, estreia na quinta-feira (20) no Brasil.
A história da bomba “é a máxima expressão da ciência, algo essencialmente positivo, com consequências negativas em última instância”, reflete o cineasta, conhecido por “A Origem” e a trilogia “Batman” com Christian Bale.
Os rápidos avanços da IA generativa, capaz de manter diálogos profundos com o ser humano, de imitar obras de arte e escrever ensaios acadêmicos, têm provocado inquietação.
“Os pesquisadores de IA se referem ao momento presente como um ‘momento Oppenheimer'”, disse Christophe Nolan, ao lembrar do primeiro teste atômico da história, quando alguns temiam que a fissão nuclear levaria a uma reação em cadeia descontrolada que pulverizaria todo o planeta.
Estes pesquisadores “estão interessados nesta história porque oferece pontos de referência sobre o alcance de sua responsabilidade, sobre o que têm de fazer”.
O filme mostra como, nesse exato momento, em plena guerra, o desenvolvimento da bomba era um dilema para os cientistas.
Oppenheimer defendeu sem sucesso o controle internacional de armas nucleares, com a esperança de que conduzisse à paz.
Os homens do Projeto Manhattan, que deu origem à primeira bomba atômica, “haviam passado pela Primeira Guerra Mundial e estavam tentando acabar com Segunda Guerra Mundial”, recorda Nolan.
“Alguns dizem que a existência da arma atômica pode ter trazido uma maior estabilidade para o mundo”, afirma Nolan.
“Pessoalmente, não acho tão tranquilizador, mas demonstra que há uma resposta simples para os dilemas criados pela descoberta”, disse.
“Não acredito que (esta história) traga uma resposta fácil. É um alerta. Mostra os perigos”, disse.
O filme estreia em meio à guerra na Ucrânia, que trouxe de volta à opinião pública o medo de uma guerra nuclear, destaca o ator Matt Damon, de 52 anos, que interpreta o general Leslie Groves, chefe do Projeto Manhattan.
Na infância, esse medo “estava muito presente em nossa mente, nos discursos políticos, na música que escutávamos, nas conversas com meus amigos”, recorda.
“Quando li o roteiro, falamos durante horas com Christopher e lhe contei como este medo logo voltou”, conta Damon.
“É como se a Guerra Fria tivesse acabado e meu cérebro tivesse me pregado uma peça e dito: ‘Está bem, vamos deixar isso de lado, não precisamos mais nos preocupar’, o que é um absurdo”, acrescenta.
Com o conflito na Ucrânia, “de repente, da noite para o dia”, esses medos ressurgiram “e isso se tornou a coisa mais importante em nossas mentes”, diz Matt Damon.
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