Não é de hoje que a inteligência artificial (IA) vem impactando inúmeros setores e transformando o dia a dia nos negócios e companhias. De acordo com um estudo da IDC Worldwide Artificial Intelligence Spending Guide, os investimentos globais em IA vão atingir a casa dos US$300 bi em 2026, com destaque para os segmentos financeiro e varejo.
Com o uso dos algoritmos de programação, os analistas podem oferecer relatórios de investimentos muito mais detalhados, por exemplo. Ela tem a capacidade de auxiliar o investidor na hora de fazer comparações entre investimentos que vão muito além dos tradicionais “comparadores de fundos”, que consideram poucas variáveis históricas, como rentabilidade em alguns períodos e sua correlação com índices de mercado.
Além de ter o histórico de retorno e risco dos diversos ativos disponíveis no mercado, por meio da IA também é possível se aproximar muito mais do perfil do investidor, saindo tanto da comparação tradicional quanto do modelo tradicional de suitability (ou seja, que avalia o perfil do investidor em relação à sua tolerância ao risco – o quanto aceita perder do patrimônio investido, e necessidade de liquidez – quando pode precisar resgatar o investimento).
As comparações apresentam muito mais variáveis e trazem correlações menos óbvias, fornecendo insights e informações complementares úteis para a tomada de decisão do investidor. Aliás, o investidor sai de um perfil “genérico” para “customizado”, com suas preferências e seus conhecimentos pessoais traduzidos de forma muito mais apurada. Assim, garante percepções claras para uma tomada de decisão mais consciente.
A própria Inteligência Artificial traz evoluções que impactam o cotidiano de forma impressionante. A IA generativa, impulsionada pelo aplicativo ChatGPT – aplicativo com o crescimento mais rápido da história -, tem auxiliado em muitas tarefas. Entretanto, nem tudo são flores. Assim como as tecnologias atuais da IA ainda demonstram muitas falhas em temas relativamente simples, ela ainda está longe de ser uma fonte 100% segura para os investidores. Por isso, é preciso ter muito cuidado e não acatar imediatamente uma resposta da ferramenta como definitiva.
Trazendo um caso ilustrativo, recentemente fiz uma pesquisa aleatória na ferramenta de nomes de países que começam com a letra “V”. Para a minha surpresa, a resposta inicial só continha um país. Questionei novamente e a resposta trouxe dois países. Perguntei se outro país com a letra “V” no início não deveria ser incluído na lista. O ChatGPT pediu desculpas e concordou. Quando chegamos a quatro países com a letra “V” inicial, eu desisti da brincadeira, com a certeza de que, pelo menos por enquanto, meus poucos conhecimentos de geografia ainda são mais apurados que os da IA generativa. Obviamente, fiz a pergunta: se é assim com letras de países, o quanto a ferramenta está realmente pronta para temas muito mais complexos e sensíveis, como recomendações de investimentos?
Apesar de não estar pronta para “fazer tudo sozinha”, a IA já é realidade para apoiar toda a indústria de investimentos. Ela pode ser usada como ferramenta de apoio a administradores e custodiantes de fundos de investimentos, como, por exemplo, na predição de falhas em todo o processo de cálculo da cota de fundos (um processo complexo e com diversas etapas). Também pode auxiliar gestores para correlação de ativos e melhor entendimento do mercado, como ferramenta mais apurada de suitability de investidores ou como promotora de insights na comparação de investimentos.
E isso é só o começo. A grande expectativa da IA é que ela consiga prever cada vez melhor a rentabilidade futura dos investimentos. Mas, é importante dizer: ainda não chegamos lá.
Ricardo Pacheco é Diretor de Fundos da Sinqia, possui mais de 20 anos de experiência no setor financeiro. Iniciou a sua carreira no Itaú Unibanco, onde teve alto desenvolvimento em diversas áreas, incluindo a filial de Nova York. Seu último cargo antes de migrar para a Sinqia foi de Chief Transformation Officer na diretoria de Investment Services and Operations do Itaú. É graduado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), com pós-graduação em Administração e Finanças pelo Insper e MBA Executivo pela Business School São Paulo, com módulo internacional na Rotman School of Management em Toronto, Canadá.
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