Os dois primeiros anos de governo de Jair Bolsonaro (PL) provocaram na Amazônia um efeito equivalente ao evento extremo de grandes proporções El Niño, é o que concluiu um estudo publicado na revista Nature no final de setembro. Segundo a pesquisa, em 2019 e 2020, as emissões de dióxido de carbono (CO2) - um dos principais gases de efeito estufa - dobraram na região devido ao enfraquecimento dos órgãos de fiscalização ambiental, o que teria resultado em um aumento no desmatamento e degradação, entre outros fatores. A pesquisadora Luciana Gatti, uma das autoras do artigo, relatou a sensação de desespero ao ver “a Amazônia ser assassinada” em uma conversa com a Agência Pública. Confira!
O estudo (🇬🇧) foi produzido por uma equipe de 30 cientistas liderada pela pesquisadora e está em fase de preprint – quando ainda não foi publicado em um periódico científico e avaliado pelos pares.
Gatti explicou à Agência Pública que a nova pesquisa nos dá duas “péssimas notícias”:
Primeiro, a de que a estação chuvosa da Amazônia, que ocorre majoritariamente entre janeiro, fevereiro e março, foi afetada: em 2020, ela apresentou queda de 26% nas chuvas e um aumento de 0,6ºC na temperatura.
A segunda é que a parte oeste do bioma, antes neutra, também passou a ser fonte de CO2, sobretudo devido à alta do desmatamento no Amazonas e queimadas em Roraima.
A publicação concluiu que a maior floresta tropical do mundo poderia estar na iminência do ponto de não retorno, em que perde irreversivelmente suas características originais e capacidade de prestar serviços ecossistêmicos.
Na entrevista, Gatti se mostra indignada com a atual situação da floresta e suas potenciais consequências.
“Não vamos só perder a Amazônia. Vai ser vai ser uma calamidade no Brasil, vai ser a quebradeira do agronegócio, o aumento de eventos extremos. Um monte de gente vai morrer, perder tudo”, alerta. “As pessoas têm que entender cada árvore como um climatizador natural. Têm que entender que a floresta não é desperdício de terra, é fábrica de chuva e de água.”
A fim de interromper este ciclo destrutivo, Gatti ressalta necessidade de tomarmos medidas para frear o colapso: como a moratória imediata do desmatamento na Amazônia e projetos de reflorestamento de áreas desmatadas e degradadas.
Ainda, defende que a gestão da pauta ambiental no Brasil seja encarada como questão de Estado, não de governo. “A visão do Brasil que eu tenho é a de um avião indo para o abismo. O piloto kamikaze, o capitão Bolsonaro, levando todo mundo para o abismo e o povo lá: “que friozinho na barriga, esse piloto é bom”, disse à Agência Pública.
Não deixe de conferir a entrevista completa com a pesquisadora. (Agência Pública)
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