Incêndios descontrolados, temperaturas recordes, chuvas intensas e devastadoras...as mudanças climáticas, causadas pela humanidade, trazem cada vez mais incertezas no clima. Para tentar se prevenir e mitigar possíveis danos, as pessoas em geral recorrem aos serviços de meteorologia, através dos diversos aplicativos disponíveis. Mas a necessidade de saber a todo momento o que está acontecendo - ou, nesse caso, o que vai acontecer no futuro próximo - está causando outro problema: a ansiedade climática.
A ansiedade climática é um termo que descreve o crescente sentimento de angústia, medo e preocupação intensificada pelas mudanças climáticas e seus impactos no meio ambiente e na sociedade.
À medida que as consequências das alterações climáticas se tornam mais evidentes, indivíduos e comunidades enfrentam um aumento na ansiedade relacionada ao futuro incerto do planeta, como eventos climáticos extremos, escassez de recursos naturais e ameaça à vida humana. Essa ansiedade pode afetar negativamente a saúde mental das pessoas, causando estresse e desespero em relação ao meio ambiente.
Jess Green, moradora de Liverpool, na Inglaterra, é uma das pessoas que relatam a “ansiedade climática” ao The Guardian, que investigou o fenômeno. Durante a onda de calor sem precedentes do verão passado no Reino Unido, ela conta como via a temperatura subir de hora em hora em seu aplicativo meteorológico. E, mesmo quando a notícia era boa, restava uma apreensão: “Eu pensava: então não é uma temperatura recorde em Liverpool hoje. Isso é ótimo. Mas e quanto a Londres?” – e lá ia ela lá verificar essa e outras cidades.
Green tem três aplicativos meteorológicos em seu smartphone, e recentemente passou a interagir com plataformas interativas que a permitem checar se a temperatura do dia está acima ou abaixo da média histórica: “Isso piorou muito minha obsessão”, diz ela, comparando a situação com a imprevisibilidade da pandemia de covid-19 nos últimos anos. “É um pouco como a pandemia. É sem precedentes, então é difícil dizer se sua ansiedade é proporcional à ameaça que você está sentindo.”
Nos Estados Unidos, 50% dos usuários de smartphones usam regularmente aplicativos meteorológicos, diz a reportagem The Guardian. De acordo com Statista, esses apps gerarão aproximadamente US$ 1,5 bilhão em receita em 2023, um salto de US$ 530 milhões em relação a 2017. Mais de 10 mil aplicativos têm a palavra “clima” no título nas lojas de aplicativos Android e iPhone.
Anna Lembke, psiquiatra e autora do livro “Nação Dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar”, diz que os aplicativos meteorológicos são muito atraentes para nosso mecanismo de buscar dopamina a cada momento: “Não só pela quantificação das informações, mas também a forma como esses números são apresentados, os gráficos e as tabelas. O cérebro tem um jeito de realmente se concentrar nos números”.
Essa busca constante em um contexto de mudanças climáticas pode gerar estresse desnecessário. Mas, para Eric Floehr – CEO e fundador da ForecastWatch, empresa que analisa a precisão das previsões meteorológicas, – também tem um lado positivo: reforçar a percepção da urgência em se agir para frear a crise climática. “Acho que as pessoas estão mais sintonizadas com o que está acontecendo, vendo que o clima está se tornando mais extremo. Espero que isso resulte em ação. Mas, por enquanto, pelo menos, está gerando interesse.”
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