As emissões de dióxido de carbono (CO2) da Amazônia dispararam em 2019 e 2020, em consequência da redução da vigilância ambiental naquela região, cada vez mais frágil, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, apontaram pesquisadores nesta quarta-feira (23).
A maior floresta tropical do mundo, devorada pelo desmatamento e por incêndios provocados para ganhar terras para a pecuária e agricultura, é fundamental para mitigar as mudanças climáticas. Mas estudos mostram que ela começou a emitir mais CO2 do que absorve, aproximando-se de um perigoso ponto de não retorno, que a levaria a se tornar uma savana.
Usando amostras de ar em voos de pesquisa, cientistas observaram que as emissões dispararam de 240 milhões de toneladas por ano, em média, de 2010 a 2018, para 440 milhões em 2019 (+83%) e 520 milhões em 2020 (+117%).
Publicado na revista “Nature”, o estudo foi conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que foram os primeiros a detectar que a Amazônia havia passado de sequestradora líquida a emissora líquida de carbono, uma vez que as árvores, quando morrem, liberam na atmosfera o CO2 armazenado.
O novo estudo aponta que o desmatamento na Amazônia Legal – em território brasileiro, que abrange 60% de toda a floresta tropical, que se estende por nove países – aumentou 80% no período 2019-2020, em comparação com a média de 2010-2018.
As áreas queimadas de toda a Bacia Amazônica aumentaram 14% em 2019 e 42% em 2020, frente à média dos oito anos anteriores, o que coincidiu com o declínio acentuado da vigilância ambiental sob o governo de Bolsonaro (2019-2022) e seu polêmico ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, destacou a autora principal do estudo, Luciana Gatti.
Os órgãos ambientais “pararam de aplicar multas, de embargar terras implicadas em crimes ambientais, de queimar os equipamentos usados nos crimes”, assinalou Luciana à AFP. “Essas medidas despencaram durante o governo Bolsonaro”, afirmou.
Segundo os pesquisadores, os resultados indicam que esse desmonte das políticas ambientais levou a um aumento do desmatamento, dos incêndios e da degradação dos ecossistemas, aumentando as emissões de CO2 da Amazônia.
O desmatamento já destruiu cerca de um quinto da floresta tropical no Brasil, com a pecuária como principal causa. O setor do agronegócio aliou-se estreitamente a Bolsonaro e é um player poderoso no país, maior exportador mundial de carne bovina e soja.
As causas da destruição da Amazônia, no entanto, vão além do Brasil, observou Luciana. “O mundo quer carne barata, soja para ração, e estamos destruindo a floresta para criar gado e soja. É o motor que está por trás da destruição”, afirmou.
O desmatamento na Amazônia brasileira diminuiu desde que Luiz Inácio Lula da Silva sucedeu Bolsonaro, em janeiro, com a promessa de que o país retomaria a luta contra as mudanças climáticas. A queda foi de 42,5% de janeiro a julho, em relação ao mesmo período do ano passado.
Especialistas ressaltam, no entanto, que o verdadeiro teste para o novo governo começa agora, com o início da temporada mais seca na Amazônia, quando o desmatamento costuma aumentar. O fenômeno climático El Niño também cria condições mais quentes e secas naquela região, o que deve alimentar os incêndios na floresta.
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