Ao menos 11 tutores de animais de estimação querem acionar a Justiça contra os responsáveis pela produção do petisco Bone Everyday. Eles contam que os pets morreram intoxicados após ingestão do biscoito da marca Bassar Pet Food. Em Minas Gerais, a Polícia Civil investiga ao menos 5 mortes (BH e Piumhi). Outros dois casos já foram comunicados em São Paulo e o número de denúncias só cresce. O Ministério da Agricultura interditou a fábrica e mandou recolher todos os seus produtos.
Zeca, um buldogue francês de 8 anos, é um dos cãezinhos que morreram após comer um petisco produzido pela Bassar Pet Food. A tutora dele, Nayele Freitas Guidetti, conta que ele comeu o biscoito da marca Every Day, no dia 31 de julho e logo começou a passar mal, vomitar e apresentar tremores. No hospital veterinário o animal fez hemodiálise para evitar a falência dos rins, mas não houve solução: os órgãos pararam de funcionar em dois dias e o Zeca se foi.
“Após a explosão de casos semelhantes, criamos um grupo de WhatsApp que já tem mais de 40 tutores de todo o Brasil relatando mortes em situações idênticas“, conta Nayele. “Estamos nos organizando para entrar com ação civil pública contra a empresa, além das ações individuais”, acrescenta.
Ouça aqui o relato de Nayele:
Abaixo, imagens da despedida de Zeca cedidas pelos tutores
O advogado Fábio Balieiro, do escritório Theodoro & Balieiro Advogados, de São Paulo, prepara uma ação na Justiça contra os responsáveis pela comercialização dos petiscos. “Sabemos que os animais que sofreram intoxicação ingeriram petisco de diferentes marcas, mas fabricados pela mesma indústria, a Bassar Pet Food“, explica. (Leia abaixo o posicionamento das empresas citadas.)
Segundo o advogado, outras vítimas que entraram em contato com o escritório informaram que os animais consumiram o petisco das marcas Every Day (que tem sabor carne, bacon e fígado), da Petz (Snack cuidado oral) e Bassar Dental Care (vendido com a marca Bassar).
Nas redes sociais há diversos alertas de internautas:
“Os tutores contam histórias semelhantes: os animais comem os petiscos e 2 dias depois começam a vomitar e ficar muito mal. Quando fazem exame de sangue, descobrem que a creatinina e a ureia estão bem acima do normal para um cão saudável, o que indica problemas renais. Dos casos que apuramos, 8 cachorros morreram rapidamente com problemas renais e 3 permanecem internados. Os veterinários apontam intoxicação por etilenoglicol, substância proibida em alimentos. E todos os cães ingeriram o petisco produzido pela Bassar”, reafirma o advogado.
Abaixo, fotos dos produtos consumidos por cães que morreram, cedidas por tutores
“A empresa Bassar informou que apenas dois lotes (3554 e 3775) estariam, supostamente, contaminados. Mas as embalagens guardadas por vítimas mostram que há outros lotes, portanto, a contaminação pode ser maior. O Zeca, cão da minha cliente, Nayele, comeu petisco do lote 3552. Existem outros cães que comeram o petisco do lote 3540. E há ainda relatos de outras vítimas que compraram o produto em 31 de maio, portanto o período em que as intoxicações aconteceram pode ser bem grande“, alerta Fábio Balieiro.
Todos as vítimas que procuraram o escritório estão sendo aconselhadas a fazer boletim de ocorrência para que as polícias civis de cada local possam abrir investigação, como já acontece em Minas Gerais, onde foram confirmadas, até o fim da apuração dessa reportagem, seis mortes em Belo Horizonte e uma na cidade de Piumhi (Centro-Oeste de Minas Gerais). Outras duas mortes foram formalmente denunciadas à polícia de São Paulo.
Nesta sexta-feira, após a veiculação de novas denúncias, o Ministério da Agricultura interditou a fábrica da Bassar Indústria e Comércio Ltda em Guarulhos, na Grande São Paulo, e determinou que todos os lotes de produtos da empresa destinados à alimentação animal sejam retirados das prateleiras.
Petz: “Imediatamente, quando do fato noticiado, envolvendo os produtos fabricados e distribuídos pela marca Bassar, acerca de casos de intoxicação, o Grupo Petz retirou voluntariamente os produtos dos pontos de vendas da rede, notificando a empresa Bassar para ciência e providências, bem como colocou-se prontamente à disposição para colaborar com apuração dos fatos.
Procurada pelas autoridades, o Grupo Petz reitera estar acompanhando e colaborando com as apurações dos órgãos competentes e aguardando os esclarecimentos do fabricante, que por sua vez aguarda análises técnicas de órgãos reguladores para o tipo de produto.”
Bassar Pet Food: “Nós, da Bassar Pet Food, somos solidários com todos os tutores de pets, nossos consumidores, parceiros e razão de nossa empresa existir. Somos os maiores interessados no esclarecimento do caso, por isso a empresa vem tomando todas as providências para esclarecimento do fato, que nos pegou de surpresa, desde o dia em que recebeu o primeiro relato de possível intoxicação.
Assim que soubemos da situação, por precaução, iniciamos a retirada do mercado dos lotes 3554 e 3775 do produto Bone Everyday.
Queremos reforçar que nunca utilizamos a substância etilenoglicol, que está sendo apontada como possível intoxicante, na fabricação de nenhum de nossos produtos. Utilizamos apenas o propilenoglicol, um aditivo alimentar presente em alimentos para humanos e animais em todo o mundo. Reforçamos que o propilenoglicol utilizado pela Bassar em seus produtos é adquirido de fornecedores qualificados e renomados, os quais não fornecem somente para Bassar e sim para inúmeras indústrias no ramo alimentar para humanos e animais.
Nunca passamos por situação semelhante antes. São mais de 5 anos de história que comprovam a confiança em nossos processos de fabricação. Prezamos pela qualidade dos produtos e pelo bem-estar e satisfação de nossos clientes”. Clique para ler o comunicado completo!
A Polícia Civil de Minas Gerais informou, nesta quinta-feira (1º), que subiu para nove o número de cachorros mortos após ingerir petiscos com suspeita de contaminação. O caso começou a cair nas redes sociais e repercutir na imprensa esta semana, após a morte de três animais em Belo Horizonte.
A delegada responsável pelo caso, Danúbia Quadros, da Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor no estado de Minas Gerais, informou à TV Cultura que até o momento foram seis mortes em Belo Horizonte e uma na cidade de Piumhi, no Centro-Oeste. Outros casos estão sendo investigados.
O advogado Fábio Balieiro informa que já há registro de mortes por intoxicação em São Paulo e Porto Alegre. De 11 casos apurados pelo escritório Theodoro & Balieiro Advogados, 9 cães morreram e 3 estão internados em estado grave.
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