A SOS Mata Atlântica mapeou os parlamentares empenhados nas causas ambientais para o novo Congresso Nacional, eleito no último domingo (2). Na avaliação da Diretora de Políticas Públicas da organização, Malu Ribeiro, a situação na Câmara dos Deputados não é ruim para o meio ambiente: 112 deputados da Frente Parlamentar Ambientalista se reelegeram. Deputados novos - como duas indígenas eleitas - podem ajudar a compor a nova bancada verde. No Senado, a frente perdeu 3 dos 8 senadores, mas também espera ganhar 5 novos políticos com pegada sustentável e formar uma "bancada de resistência forte".
Apesar das perdas da Frente Parlamentar Ambientalista, como Alessandro Molon (PSD), Rodrigo Agostinho (PSB) e da indígena Joenia Wapichana (Rede), que não se reelegeram, na avaliação da SOS Mata Atlântica a “bancada verde” continuará forte para tocar as pautas importantes para o meio ambiente e sustentabilidade.
Dos 216 parlamentares que formam a frente ambientalista, 112 foram reeleitos. Estes estão divididos entre ótimo, bom e sensível a causas ambientais, de acordo com o índice de convergência ambiental, que usa a ferramenta o Farol Verde. A mesma plataforma também mapeou os chamados antiambientalistas ou contrários a pautas ambientais, num total de 97 em 2022. Destes, 61 foram reeleitos.
“Tanto favoráveis como contrários perderam o mesmo número de parlamentares. Foram 36 perdas de parlamentares, pró e contra as pautas ambientais”, explica Malu Ribeiro, Diretora de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica.
A conclusão, portanto, é que ainda há número e fôlego para a bancada verde no Congresso. “A situação na Câmara dos Deputados não é tão ruim. O mesmo acontece no Senado: eram 8 da Frente, 3 não se reelegeram, mas ganhamos 5 novos que são sensíveis à pauta ambiental e é possível que venham compor a frente parlamentar. Apesar de termos novos senadores que foram ministros [de Bolsonaro] e que defendem a pauta de costumes, conservadora”, diz Malu. Veja, abaixo:
Além dos reeleitos, a Frente Parlamentar Ambientalista deve ser ampliada com novos parlamentares que estão sendo mapeados. De acordo com Malu Ribeiro, o objetivo é procurar esses novos deputados e deputadas – como duas transsexuais eleitas, pela primeira vez – e outros que têm uma agenda de diversidade, de gênero e inclusão e podem passar a defender também as causas verdes. “Temos a deputada Taliria Petrone (Psol) que foi a mais votada, e é coordenadora do GT Água, Gênero e Segurança Climática, na frente ambientalista”, lembra Malu, que cita ainda a deputada do Tabata Amaral (PSB), como uma reeleita que se mostrou parceira do meio ambientes.
“A gente tem um copo com quantidade cheia, importante, para dois cenários: com Lula/Alckmin eleitos, uma agenda mais progressista de desenvolvimento sustentável e agenda climática de maior relevância internacional. Mas, no outro cenário – de reeleição Bolsonaro – há uma boa bancada de resistência para enfrentamento de pautas antiambientais, como a gente vem vivendo agora”
Malu Ribeiro
Assista esse trecho da entrevista do Curto Verde com Malu Ribeiro:
“Diferente de 2018, a agenda ambiental ocupou um espaço nos debates políticos este ano, ocupou espaços de relevância para as candidaturas, não ficou ficou escondido ou atacado, como aconteceu em 2018. Quem ataca o meio ambiente, na verdade, é extrema direita que não enxerga a importância das questões socioambientais para o país”, avalia Malu Ribeiro.
Apesar da eleições de Ricardo Sales (PL) como deputado federal – o ex-ministro do Meio Ambiente que disse pra “passar a boiada” durante a pandemia de covid-19 – e outros ex-ministros antiambientalistas do governo Bolsonaro, houve ganhos expressivos este ano, segundo Malu Ribeiro.
Ela cita a eleição de duas indígenas no domingo (2), para a Câmara dos Deputados: Sônia Guajajara e Célia Xakriabá (ambas pelo Psol). A causa indígena ganha ainda outros três representantes para os próximos 4 anos: Juliana Cardoso e Paulo Guedes (ambos do PT) e Silvia Waiãpi (PL).
“Há parlamentares que foram eleitos com agenda anti lei da Mata Atlântica, anti Código Florestal, e com uma agenda de anistia para quem foi degradador, e isso é perigoso para a Mata Atlântica”, alerta Malu Ribeiro. No entanto, ela mesma conclui que “a sociedade está atenta agora” e não aceita mais incêndios, desmatamento e rios poluídos como antes.
Por outro lado, a votação expressiva do ex-ministro de Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) no primeiro turno das eleições para o governo de São Paulo, passando o petista Fernando Haddad – que estava a frente das pesquisas de intenções de voto – é um ponto de alerta para a defesa do bioma Mata Atlântica, principalmente pelo perfil “obreiro” do candidato, segundo Malu Ribeiro.
“É candidatura preocupante porque São Paulo foi uma referência na agenda ambiental na edição de normas, no combate ao desmatamento, quase chegando no índice de desmatamento zero da Mata Atlântica, e poderá regredir muito se esta agenda obreira, e de privatização de vários setores – como o da água, por exemplo – acontecer”, diz Malu Ribeiro.
Mas, segundo a representante da SOS Mata Atlântica, a Assembleia Legislativa de São Paulo elegeu, nestas eleições, “bancadas muito interessantes e muito fortes”, ligada à sustentabilidade. “Então, não vão deixar, eu acredito, o governo fazer o que quer “.
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