A crise climática ameaça as possibilidades de alcançar a igualdade de gênero nos países mais vulneráveis ao aquecimento global, afirmou a ONU.
Na abertura da COP28, em Dubai, a agência da ONU para a saúde reprodutiva e materna (UNFPA), divulgou dados que mostram que os 14 países que correm maior risco face aos efeitos da crise climática são também aqueles onde as mulheres e as meninas têm maior probabilidade de morrer durante o parto, de se casarem precocemente, de sofrerem violência baseada no gênero ou serem deslocadas por uma catástrofe.
“A crise climática afeta todas as pessoas, mas há subgrupos menos capazes de se adaptar”, disse Angela Baschieri, líder técnica da UNFPA em ação climática. “Isso pressiona os mais pobres e aumenta ainda mais a desigualdade existente.”
Desastres, como inundações ou ciclones, afetam desproporcionalmente as mulheres, perturbando os serviços de saúde sexual e reprodutiva, disse Baschieri, apontando para o Sudão do Sul, que tem a taxa de mortalidade materna mais elevada do mundo – 1.223 mortes por cada 100.000 vivos – e está entre os países mais afetados pelo aquecimento global.
Sistemas de saúde capazes de resistir aos choques climáticos e continuar prestando cuidados de saúde sexual e reprodutiva são vitais para o bem-estar das mulheres e meninas, acrescentou a especialista. No entanto, apenas um terço dos planos nacionais de ação climática os menciona.
Além de diminuir o acesso das mulheres aos cuidados médicos, as catástrofes podem exacerbar a violência baseada no gênero.
“Temos assistido a um aumento da violência baseada no gênero durante as recentes cheias no Paquistão e as secas no Uganda”, disse Bridget Burns, diretora da Organização das Mulheres para o Ambiente e o Desenvolvimento (Wedo).
“Muitas vezes nos concentramos na externalidade dos desastres, por exemplo, nas taxas de mortalidade”, afirmou Burns. “Mas não olhamos para os impactos a longo prazo que as instabilidades têm nas comunidades. Geralmente são as mulheres que atuam como amortecedores durante as crises.”
A violência de gênero refere-se a atos e padrões de comportamento que resultam em danos físicos, emocionais ou psicológicos a uma pessoa com base em seu gênero. Geralmente direcionada a mulheres, embora também possa afetar homens, essa forma de violência é enraizada em desigualdades de poder entre os gêneros e perpetuada por normas culturais e sociais prejudiciais. Inclui diversas manifestações, como violência doméstica, assédio sexual, estupro, mutilação genital feminina, entre outras. A violência de gênero transcende fronteiras geográficas, econômicas e culturais, sendo uma questão global que exige esforços contínuos para promover a igualdade de gênero e eliminar comportamentos prejudiciais e discriminatórios.
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