As negociações sobre o clima com mediação da ONU começam nesta segunda-feira (5) na cidade de Bonn, na Alemanha, com o presidente da próxima COP28 em Dubai, Sultan al-Jaber, no alvo dos especialistas e políticos, que duvidam de sua independência em relação aos combustíveis fósseis.
A designação de Sultan al-Jaber, presidente da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC, na sigla em inglês) dos Emirados Árabes Unidos (EAU), provocou muitas críticas dos ativistas do meio ambiente.
Recentemente, vários congressistas dos Estados Unidos e deputados do Parlamento Europeu pediram sua saída do cargo.
Questionado pela AFP em abril, Jaber se defendeu e recordou que também é fundador da Masdar, uma empresa dos Emirados Árabes Unidos especializada em energias renováveis.
Mas os principais negociadores americano e europeu para a questão climática, John Kerry e Frans Timmermans, defenderam a nomeação.
Kerry se reuniu durante o fim de semana em Abu Dabi com várias autoridades dos EAU, incluindo Jaber.
O presidente da ADNOC destacou recentemente a importância das energias fósseis para a economia mundial.
Sem defender uma saída para o petróleo e o gás, como desejam muitos negociadores, ele prefere falar em eliminar as “emissões” dos combustíveis fósseis, abrindo caminho para sua continuidade com diversas técnicas, ainda embrionárias, de captação de emissões.
“Esta presidência deve mostrar rapidamente qual é sua ambição: acelerar as energias renováveis é parte dela, mas não será suficiente para esta COP”, afirmou Laurence Tubiana, arquiteta do Acordo de Paris de 2015 e presidente da Fundação Europeia do Clima.
“Agora é ainda mais crucial do que nunca reconhecer que a era dos combustíveis fósseis está chegando ao fim”, declarou.
A conferência de Bonn sobre as mudanças climáticas, organizada a cada ano pela ONU entre duas COP e com duração de duas semanas, será a oportunidade para o presidente da COP28 dissipar as dúvidas dos críticos.
A conferência também deve permitir avanços técnicos em temas como o financiamento concreto das “perdas e danos”, assim como os 100 bilhões de dólares (495,5 bilhões de reais no câmbio atual) anuais prometidos aos países pobres para ajudar na adaptação da mudança climática e na transição energética.
Os analistas também aguardam informações sobre o próximo “balanço mundial”, previsto para setembro, que deve quantificar os esforços dos países após o Acordo de Paris.
O acordo pretende manter o aumento da temperatura média mundial “abaixo de 2ºC na comparação com os níveis pré-industriais e prosseguir com os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC”, o que parece cada vez mais difícil.
Mas o texto deixa que cada país estabeleça as próprias metas para alcançar os resultados.
“Os combustíveis fósseis certamente são os principais culpados”, afirmou Samuelu Laloniu, representante de Tuvalu que, como outros pequenos Estados insulares ameaçados de submersão, está determinado a combater o petróleo, o gás e o carvão.
Tuvalu e Vanuatu também exigem a adoção de um “tratado de não proliferação” dos combustíveis fósseis.
Os países industrializados do G7 se comprometeram recentemente a “acelerar” a saída dos combustíveis fósseis, mas sem estabelecer um novo prazo, e apenas para aqueles que não contam com sistemas de captura e armazenamento de CO2, técnicas que ainda estão muito longe de uma disponibilidade em larga escala, mas que são elogiadas pelos países produtores de petróleo.
Os apelos da Agência Internacional de Energia (AIE) para acelerar os investimentos em energias renováveis foram bem recebidos por muitos governos.
O próprio Jaber defendeu triplicar a capacidade das energias renováveis até 2030, durante um discurso em maio em Petersberg, Alemanha.
Estimuladas pela crise energética e climática, os investimentos em tecnologias descarbonizadas (renováveis, nuclear, baterias etc.) devem alcançar 1,7 trilhão de dólares (8,4 trilhões de reais no câmbio atual) em 2023, segundo a AIE. Ao mesmo tempo, quase US$ 1 trilhão (4,95 trilhões de reais) ainda serão destinados ao petróleo, gás e carvão.
Os Emirados Árabes Unidos, um grande produtor de petróleo, sempre destacam os investimentos do país em energias renováveis.
Mas se o país eventualmente parar de utilizar seu petróleo internamente, isto não significa que vai parar de produzir para exportação, disse Karim El Gendy, do centro de estudos Chatham House.
Os Emirados podem “estar inclinados a repetir, por exemplo, que o mundo vai precisar de petróleo simplesmente porque precisam manter os clientes”, disse.
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