A prática consiste em observar aves nativas, identificá-las e fotografá-las em espaços naturais. O Curto News conversou com um profissional da área para entender como a observação de aves colabora para a preservação das florestas.
No Brasil, existem 1.971 diferentes aves. No quesito diversidade, o país fica atrás apenas da Colômbia e do Peru. Além disso, 293 espécies só existem no território brasileiro. É a terceira maior taxa global, liderada por Indonésia e Austrália.
O país verde e amarelo é um dos mais ricos em biodiversidade no planeta. Mas esse patrimônio natural ainda é subutilizado e até exterminado por economias convencionais. Ao mesmo tempo, uma nova economia pode ajudar a virar este jogo.
A observação de aves é uma atividade que faz parte do turismo de natureza e vem crescendo nos últimos anos, em especial no Brasil, que abriga 18% da diversidade mundial de pássaros. No mundo todo, são mais de 100 milhões de observadores de aves, gerando cerca de 90 bilhões de dólares por ano.
Nos Estados Unidos, de acordo com dados foram publicados em 2019 pelo United States Fish and Wildlife, há cerca de 800 espécies de aves — menos da metade da variedade brasileira. No entanto, nos EUA a observação de aves atrai 45 milhões de pessoas, gera 782 mil empregos e movimenta US$ 96 bilhões anuais, ou hoje quase R$ 500 bilhões.
No Brasil, os praticantes são em torno de 50 mil. Entre eles está Lucas Klassmann, biólogo e fotógrafo de aves. Eles já fotografou aves na maioria dos estados brasileiros, além de Colômbia, Equador, Peru, Costa Rica, Estados Unidos, África do Sul, Quênia, Índia, Inglaterra e França.
“No Brasil, eu destacaria a Mata Atlântica do litoral de São Paulo como um dos melhores roteiros brasileiros. A estrutura das pousadas especializadas para birdwatching, a diversidade de espécies e oferta de guias locais especializados é o melhor que o Brasil tem a oferecer hoje”, afirma.
Os números mostram que o Brasil tem um potencial enorme de atrair milhares de observadores de aves e a partir desse turismo específico gerar renda e investir em conservação dos biomas. Funciona assim nos EUA, país que mais explora roteiros de ‘birdwatching’ no mundo, e em diversos países sul americanos que já deram esse passo, como Colômbia, Equador e Peru.
O turismo de observação de aves troca a caça e captura ilegais por uma atividade muito mais lucrativa para as comunidades. Além de preservar florestas e biomas inteiros pela necessidade de conservação para que a atividade se perpetue. “É um negócio bom pra todo mundo”, pontua Klassmann.
A prática de observação e fotografia de aves envolve um extenso planejamento. Quando alguém publica uma foto de ave pode ter sido uma situação espontânea, inesperada, de estar em um parque e apontar uma câmera pra capturar a imagem.
Certamente esse não é o caso dos observadores e fotógrafos de aves, que passam meses buscando informações sobre locais onde existem maiores chances de registros de certas espécies. Além de pesquisar sobre o regime de chuvas, floração de certas plantas, migrações das espécies, pesquisa por sons para atração e até mesmo sobre os eventuais riscos existentes na busca por esses registros.
Depois de saber todas as informações, começa a parte de logística prática: vôos, contratação de guia local, transporte, alimentação e hospedagem. “Só ao final de tudo podemos estar na natureza e aproveitar a melhor parte: observar e fotografar as aves”, conta Lucas Klassmann.
O observador de aves também explica que a principal barreira ainda é a pouca informação. Até porque, mesmo pra quem tem poucos recursos financeiros, tudo que é necessário para iniciar a observação de aves é um binóculo — ou uma câmera com zoom — e uma boa disposição a fazer trilhas.
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