Representantes de 175 países se reúnem a partir desta segunda-feira (29), em Paris, para um ciclo de cinco dias de debates para definir um acordo que leve a um tratado para acabar com a poluição com plásticos. Os diplomatas reuniram-se na sede da Unesco para uma segunda etapa das negociações para chegar a um acordo histórico sobre o ciclo de vida do plástico.
No encontro reúnem-se países com interesses divergentes, ONGs e também empresas dos setor plástico, para o desgosto dos ativistas ambientais, que também estarão presentes nos debates.
O pontapé inicial foi dado na manhã desta segunda-feira (29) pelo presidente da comissão, o peruano Gustavo Meza-Cuadra Velásquez.
“O mundo está nos observando”, disse ele. “O desafio é enorme, todos nós sabemos disso aqui, mas não é intransponível”, afirmou.
Há pouco mais de um ano, em Nairóbi (Quênia), foi alcançado um acordo de princípio para acabar com a poluição com plásticos no mundo, com a ambição de desenvolver, até o final de 2024, um tratado juridicamente vinculativo sob a égide das Nações Unidas.
Um grupo de ministros e representantes de cerca de 60 países se reuniu em Paris no sábado para dar impulso às negociações.
O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu em um vídeo exibido na abertura da reunião nesta segunda-feira para “acabar com um modelo globalizado e insustentável” de produção e consumo de plástico, alertando para uma “bomba-relógio”.
Os desafios são grandes, já que a produção anual mais que dobrou em 20 anos, atingindo 460 milhões de toneladas (Mt). Ainda pode triplicar até 2060 se nada for feito.
No entanto, dois terços dessa produção global têm uma vida útil curta e são descartados após apenas um ou poucos usos; 22% são abandonados (lixões, incineração ao ar livre ou descarga na natureza) e menos de 10% são reciclados.
“O objetivo principal deve ser reduzir a produção de novos plásticos e banir o quanto antes os produtos mais poluentes – como os plásticos descartáveis – e os mais perigosos para a saúde”, destacou Macron.
“Há um consenso sobre o que está em jogo e há uma vontade de agir”, afirmou à AFP Diane Beaumenay-Joannet, da ONG Surfrider Foundation. Ela disse estar “muito otimista com o fato de estarmos avançando em um projeto de tratado”, mas acredita que “sobre o conteúdo preciso das obrigações, será complicado, principalmente em relação à redução da produção”.
A favor da redução, uma coalizão de países, liderada por Ruanda e Noruega, inclui, entre outros, a União Europeia (UE), o Canadá e vários países da América Latina, como México, Peru e Chile. Seu objetivo é acabar com a poluição plástica até 2040.
Mas há resistência de outros países, que dão maior ênfase à reciclagem ou à melhor gestão de resíduos, como China, Estados Unidos, Arábia Saudita e em geral os países da Opep, que buscam proteger sua indústria petroquímica.
O plástico, derivado do petróleo, é um material onipresente na vida cotidiana. Está em embalagens, fibras de roupas, material de construção e instrumentos médicos.
Os resíduos vão parar nos oceanos, nas calotas polares, no estômago das aves e até no topo das montanhas. Microplásticos também foram detectados no sangue, leite materno e em placentas.
“Os países desenvolvidos são os maiores consumidores e os que mais poluem. Eles produzem em outros países e enviam seus resíduos de volta para outros países”, aponta Diane Beaumenay-Joannet.
Outra questão no problema da poluição com plástico é seu papel no aquecimento global: em 2019 o problema gerou 1,8 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa, ou seja, 3,4% das emissões globais, número que pode dobrar até 2060, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
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