Neste 7 de fevereiro, Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, a Fiocruz reuniu um denso material sobre saúde de várias etnias, que ganhou holofote com a crise humanitária Yanomami. São pesquisas, estudos, vídeos, e ações em relação aos yanomamis, em particular, e a outros povos originários do Brasil. Na mesma pegada a Agência Einstein divulgou o especial "Ameaças históricas" com infográficos que explicam o impacto da mineração na subsistência dos indígenas.
De acordo com uma das pesquisas compiladas pela Fiocruz, crianças indígenas têm 14 vezes mais chances de morrer por diarreia. Esse risco é 72% maior para crianças pretas em comparação com brancas.
Outro estudo realizado em parceria com a Unicef analisou 304 crianças menores de cinco anos (80 provenientes de Auaris; 118 de Maturacá; e 106 de Ariabú). Os dados mostraram que 81,2% delas tinham baixa estatura para a idade (desnutrição crônica); 48,5% tinham baixo peso para a idade (indicação de desnutrição aguda) e 67,8% estavam anêmicas.
Em função desse quadro grave, um projeto coordenado pelo pesquisador Paulo Basta, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) vai examinar a qualidade de amostras de água para consumo humano nas aldeias, com o objetivo de reduzir a incidência de doenças e a mortalidade infantil.
Em 2018 e 2019, o médico e pesquisador Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) Paulo Basta conduziu um estudo que investigou os efeitos dessa devastação na saúde alimentar das crianças menores de cinco anos em duas regiões da terra Yanomami: Awaris, no extremo norte de Roraima, e Maturacá, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
Os resultados revelaram que, das 350 crianças avaliadas, 80% tinham déficit de estatura para a idade, 50% tinham déficit de peso para a idade (por desnutrição aguda) e 70% tinham anemia.
Agora, como desdobramento da pesquisa, a missão da equipe é criar, junto à comunidade, um sistema de abastecimento de água potável para combater os casos de diarreia, desidratação, desnutrição e mortalidade infantis.
Estes e outros levantamentos estão disponíveis no site da Fiocruz.
“O garimpo, quando entra na terra indígena, tem como primeira providência provocar o desmatamento, a derrubada da cobertura vegetal. Cavam buracos, desviam o curso do rio, fazem aquelas cavas enormes para tentar retirar os minérios e o ouro. Isso promove um processo em que os animais grandes, os mamíferos, a paca, a anta, que são alimentos preferenciais de caça pros indígenas, fogem (quando não são abatidos pelo próprio garimpo)”, relata o médico e pesquisador Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) Paulo Basta.
Ele acrescenta, em seu estudo que: “Por sua vez, o mercúrio utilizado contamina o rio, deixando menos peixes; a área de devastação reduz a terra agricultável, então a área para você fazer uma roça na comunidade fica cada vez mais restrita. Isso promove uma insegurança alimentar para essa população e aí começa a questão da desnutrição. Falta comida, realmente falta comida nesse cenário”.
Também neste Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, a Agência Einstein de Notícias trouxe relatos e informações de pesquisadores que tentam entender e mapear as doenças que afetam as populações indígenas no Brasil.
A enfermeira Eliseth Ribeiro Leão, pesquisadora do Einstein e a colega Elaine Barbosa de Moraes, estudaram a região Yanomami para um estudo pioneiro sobre como diferentes grupos indígenas do Javari lidavam com dores no corpo ou de cabeça, na década passada.
“Passamos por todos os lugares ligados ao caso do Dom e do Bruno. Às vezes a gente, conversando, até se pergunta ‘Nossa, será que a gente esteve lá mesmo?’. Porque essa é a sensação que a gente tem: parece outro lugar, outro país”, conta ela.
O trabalho das pesquisadoras mostrou que a prevalência de dores lombares é quase três vezes maior entre os indígenas amazônicos do que na população brasileira como um todo, enquanto a de dor de cabeça é quase o dobro.
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