Na semana em que se comemora o Dia da Amazônia, o Curto News conversou com a jornalista Renata Cafardo sobre o "Educação na Floresta", podcast especial que mostra como a educação é peça chave na preservação da Amazônia. A repórter e colunista do Estadão viajou ao Pará e Amazonas para acompanhar de perto os desafios das escolas da região. E conta aqui os bastidores dessa investigação!
O Curto News bateu um papo com a repórter especial e colunista de educação do Estadão Renata Cafardo sobre o “Educação na Floresta”, podcast especial que mostra como a educação é peça chave na preservação da Amazônia. A jornalista viajou de barco pelos rios da Amazônia, conheceu comunidades no meio da floresta e pôde constatar o tamanho dos desafios enfrentados pelas escolas da região amazônica.
Do trabalho de campo nasceram uma reportagem especial (Como a escola pode salvar a Amazônia) e dois episódios de podcast no Estadão Notícias. Renata conta, pra gente, os bastidores da investigação jornalística e como a floresta e seus nativos impactaram sua vida pessoal e profissional! Leia e ouça trechos da entrevista.
Desde 2000, Renata Cafardo trabalha na imprensa brasileira como especialista em educação. Começou no Estadão, passou pela TV Globo e há 5 anos voltou ao Estadão, onde é repórter especial e colunista. É ainda autora do livro “O Roubo do Enem”, da editora Record e presidente/fundadora da Jeduca (Associação de jornalistas de educação).
“Tudo é medido pela distância de barco. Uma imensidão, água por todo lado, mata, navega por horas e vê uma pessoa na margem, um indígena. Essa imensidão me impressionou demais. Por mais maravilhosa que seja, a imensidão dificulta a educação na Amazônia. Dificulta para levar professores, materiais, internet. Precisa ter mais investimento, mais prioridade com a educação ali, pra que ela aconteça com qualidade”.
“Eu escolhi falar da Educação na Amazônia, porque esse é um ano importantíssimo para Amazônia, é um ano de eleição, é um ano em que houve recordes de desmatamento, houve um crime bárbaro lá. Tudo isso deixou a Amazônia muito em evidência. Mas nacionalmente e internacionalmente, pouco se falava de Educação na Amazônia.”
“Eu sou repórter de educação há mais de 20 anos e nunca tinha feito uma matéria de Educação na Amazônia, então eu tinha desconhecimento. Nasceu como uma curiosidade minha pessoal e da relevância jornalística de se falar, de se contar o que é feito lá. Que tipo de educação é oferecida? Será que eles consideram os saberes locais? Isso entra na escola? Eu fui entender como a educação pode ser relevante para o desenvolvimento daquele lugar.”
“Uma professora da Universidade Federal do Amazonas, carioca, me ajudou. Ela mora lá há muitos anos e entende profundamente da educação ali da região. Em uma conversa, me contou do termo “educação para sustentabilidade”, isso me abriu a cabeça e eu pensei: “o que é isso é isso? Eu quero mostrar que é possível fazer uma educação com sustentabilidade!”
“Educação para sustentabilidade é uma educação que vai manter a floresta em pé.”
“O conceito de educação para sustentabilidade, que a professora me trouxe, foi muito importante. Foi aí que eu consegui direcionar melhor a reportagem e entender qual seria o caminho.”
“É importante a gente olhar para as pessoas embaixo daquelas árvores, em baixo de todo aquele verde, entre todos aqueles rios. Qual é a importância delas para preservação daquele bioma? Uma história me impressionou muito: uma família, cujo pai é madeireiro, o avô também foi madeireiro. O pai fala como a educação do filho transformou a vida dele. Ele deixou de desmatar! Hoje é um empreendedor, que trabalha com turismo em uma pousada e constrói casas para turista. Comunidade preservando a comunidade. Ele entendeu que ganha mais dinheiro preservando a floresta. Me impressionou muito poder transformador da educação, sobre preservar a floresta.”
“Eu conheci pessoas que nasceram na região amazônica, mas passaram a vida sem saber sequer do que se tratava a Amazônia. Uma pesquisadora me contou que sempre teve livros com histórias do Sudeste, que falam de assuntos que não tinham nada a ver com a vida dela. E ela demorou anos e anos para saber que existiam indígenas bem perto dela.”
“Conversei com estudantes dentro de uma escola da Amazônia e eles disseram que não sabiam onde ficava a Amazônia apesar de estarem ao lado de todas aquelas árvores, de todo verde! Não aprenderam que aquela mata toda que fica em volta deles é um bioma importantíssimo!”
“Conheci crianças engajadas em defender o território delas, adolescentes que querem ser indígenas dentistas, professores e passar as tradições para que se faça uma escola indígena de verdade, e não passem apenas os valores dos brancos”
“Conheci a história da Rebeca, uma imigrante haitiana. Ela me explicou o que era empatia. Ela descreveu com sutileza a importância de uma educação acolhedora e empática.”
“A educação tem que ser significativa. É necessário uma educação que tenha sentido na Amazônia. É assim que ela tem que ser, ela tem que ser contada para o aluno se reconhecer. “
O Educação na Floresta está disponível nos maiores streamings do Brasil. O podcast é uma produção de Jefferson Perleberg e Leonardo Catto.
Roteirizado e apresentado por Renata Cafardo. Conteúdo do Estadão Notícias.
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