Cientistas estão solicitando às autoridades a implementação de um plano para salvaguardar a língua portuguesa na era da inteligência artificial (IA), alertando para o perigo de a tecnologia de processamento de linguagem portuguesa ser controlada por grandes empresas de tecnologia.
Em um abaixo-assinado, os autores da campanha pedem “às autoridades que desenvolvam e coloquem em prática um plano para preparar tecnologicamente a língua portuguesa para a era da inteligência artificial, com o apoio da comunidade científica especializada nesta área”.
“Para democratizar essa tecnologia, é essencial um plano que promova o desenvolvimento e o acesso aberto a soluções em código aberto para a tecnologia da língua portuguesa, seguindo as regulamentações pertinentes”, afirmam no abaixo-assinado.
“Em breve, o uso do português, assim como de qualquer outra língua natural, será mediado permanentemente pela tecnologia”, explicou Lusa António Branco, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e um dos organizadores do abaixo-assinado.
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Essa mediação incluirá transcrições automáticas de conversas telefônicas e resumos de reuniões, podendo até oferecer sugestões de alteração de tom de voz, por exemplo. Além disso, haverá sistemas de tradução automática permanente durante interações com estrangeiros.
Atualmente, essa mediação tecnológica está concentrada em três ou quatro grandes empresas de tecnologia, o que cria uma dependência significativa e ameaça a autonomia cultural e digital dos países.
Outros países, como Suécia, Países Baixos, Eslovênia e Estônia, já estão preocupados em proteger suas línguas nacionais, investindo em ferramentas de uso público para preservar os respectivos idiomas.
No entanto, em Portugal, Brasil e outros países de língua portuguesa, ainda há falta de consciência sobre a importância deste assunto entre os tomadores de decisão e autoridades.
O abaixo-assinado surgiu de um encontro de pesquisadores em março, na Galiza, durante a 16.ª Conferência Internacional sobre o Processamento Computacional do Português.
Os autores defendem um plano elaborado pelos decisores políticos, aproveitando a projeção internacional do português como língua global multicêntrica e garantindo sua convivência com outras línguas no espaço ibero-americano, africano e global, incluindo as línguas indígenas, o galego, bem como os idiomas de fronteira e de intercâmbio.
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