Não é fácil digerir o Congresso Nacional eleito neste domingo (2) por nós, eleitores brasileiros. Se a composição de nossos representantes já estava ruim, vai piorar, muito. Temos mais negacionistas, armamentistas, inimigos da sustentabilidade, radicais de todas as matizes e pessoas sobre as quais pairam elevadas suspeitas – ou provas - de corrupção.
Claro, há eleitos cujos propósitos nos oferecem seriedade, compromisso, concorde-se ou não com eles. Mas são casos pontuais.
Quem diria que teríamos saudades dos tempos nos quais a eleição de Tiririca para a Câmara dos Deputados (alias, eleito novamente ontem) era uma das excentricidades maiores.
Esta eleição mostra que, no Brasil, o crime, a mentira, a canalhice, ainda compensam, e muito. E enquanto isso perdurar, essa impunidade legal ou moral, será muito difícil de implementar uma agenda real de desenvolvimento, inclusão, sustentabilidade, educação, justiça.
Apesar desses percalços, temos que continuar trabalhando incansavelmente pela mudança da agenda de nosso País, pela formação de novas lideranças, por mais educação de qualidade para todos.
No caso da Presidência da República, o segundo turno não deveria surpreender tanto. Há um Brasil a ser descoberto por nós jornalistas, acadêmicos, artistas. Um Brasil que não é o espelho que insistimos em imaginar. Prepondera um quase negacionismo sobre o Brasil real.
As pesquisas eleitorais previam, em suas margens de erro ou não, a possibilidade de uma rodada final entre Lula e Bolsonaro. Não foi uma jornada feliz para a maioria dos institutos de pesquisa sérios, mas isso não justifica que eles sejam hostilizados com um objetivo de extermínio. Eles cometeram erros no passado, vão cometer no futuro, mas são fundamentais na composição do cenário para a sociedade. Quem quer o fim das pesquisas quer o obscurantismo, o autoritarismo, o sinal verde para as fake news.
Teremos três semanas intensas. Lula sai na frente ancorado nos números do primeiro turno, mas terá que se abrir ao diálogo com outras forças políticas, delinear programas, reconhecer mais claramente erros do passado, demonstrar mais humildade, se quer preservar e ampliar esse frágil favoritismo de hoje.
De Bolsonaro, difícil esperar mudanças. Surpreenderia se passar a adotar uma postura minimamente responsável, republicana. Se aceitar democraticamente uma eventual derrota, sem ameaças prévias golpistas, já seria um alívio. Mas isso é querer demais.
Precisamos seguir alertas na defesa de nossa democracia e liberdades.
(João Caminoto)
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