“Um estudo realizado na Suíça, que acompanhou 10.000 jovens durante 30 anos, mostrou que quatro em cada cinco quadros de depressão, na vida adulta ou no início da vida adulta, geralmente surgiram de um transtorno de ansiedade não tratado ou maltratado”, lembra o psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Programa de Transtornos de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
PUBLICIDADE
Se o transtorno de ansiedade é uma forma de adaptação ruim ao stress crônico, a depressão é a falência dos mecanismos de enfrentamento de estresse.
Bernik explica que a pandemia foi um período chamado de tempestade perfeita para o crescimento desses transtornos porque: as pessoas não buscaram por ajuda e tratamento por medo de se contaminarem; novos casos não foram tratados e tratamentos ficaram decontinuados; existem poucos serviços de saúde mental e nenhum ambulatório psiquiátrico no País; o aumento do stress psicossocial, por conta das notícias diárias de pessoas morrendo, adoecendo, com medo de perder emprego e aumento da criminalidade.
“Não dá para fingir que o problema não existe. Não dá para imaginar que a pessoa vai resolver sozinha”, diz o médico. Não há remissão espontânea da ansiedade e da depressão, caso a pessoa não procure tratamento, ela não vai melhorar”, explica.
PUBLICIDADE
“Não é falta de coragem moral da pessoa, não é uma fraqueza de caráter”, conclui o Bernik. Ele ainda chama atenção para o Distress Disability Disadvantage, os três Ds, que ajudam a entender e diagnosticar os problemas:
- Distress – o sofrimento excessivo;
- Disability é a incapacidade de enfrentar o mundo como ele é;
- Disadvantage – sentimento de desvantagem em uma empresa ou faculdade, porque a pessoa não consegue falar ou expressar o que sente e a qualidade de seu trabalho cai.
“Dentro desse contexto, você precisa buscar ajuda, que passa por uma avaliação psiquiátrica, ou pelo menos uma unidade básica de saúde com um médico. O tratamento não é obrigatoriamente um tratamento com medicamentos, você pode optar em muitos casos por uma terapia comportamental cognitiva, um medicamento e, sempre que possível, também psicoterapia”, diz o psiquiatra.
(Fonte: Jornal da USP)
Veja também: