Desde que o governo de Jair Bolsonaro (PL) permitiu o empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil houve uma corrida de famílias à Caixa Econômica Federal para solicitar os valores. Na última semana, uma explosão de acessos nos canais de atendimento da Caixa Econômica obrigou o banco a suspender o consignado até as 7h de segunda-feira (24). Adquirindo juros mais altos e relação à média do mercado, brasileiros não sabem sequer como irão pagar a dívida. O Idec já registrou mais de 2 mil queixas, entre elas venda casada e assédio bancário.
As redes sociais estão cheias de alertas sobre o perigo da medida, considerada eleitoreira, que permitiu empréstimo consignado – quando as prestações são descontadas direto na folha de pagamento – a beneficiários do Auxílio Brasil.
Como os beneficiários são famílias de baixa renda – algumas em vulnerabilidade – correm o risco de perder o pouco que tem. Segundo a Caixa Econômica, entre os dias 11 e 20 de outubro o aplicativo Caixa Tem recebeu 206 milhões de pedidos de empréstimo. No mesmo período de setembro, foram 25 milhões.
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) fez um canal através de canais oficiais e das redes sociais, entre 11 e 17 de outubro, sobre reclamações a respeito do consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil. Foram mais de 2 mil denúncias mapeadas, dentre elas, assédio bancário e venda casada.
“A liberação dos recursos está sendo anunciada com prazo de 48 horas, porém a maioria dos interessados que tem buscado ajuda nas redes sociais adverte que os bancos não dão informações sobre o andamento dos processos. Em muitos casos, esgotado o prazo máximo estimado, a informação enviada é que a proposta não foi aceita e o crédito foi negado sem justificativa, apenas advertindo que se trata de política de crédito”, explica a coordenadora do Programa de Serviços Financeiros do Idec, Ione Amorim.
De acordo com o Idec, falta há transparência sobre o processo, divulgação da política de aprovação, e alertas sobre o risco de superendividamento. “As pessoas não tem informação de que não é preciso usar todo o valor de uma só vez”, afirma o Instituto.
Com a sobrecarga no sistema, uma onda de reclamações começaram a circular nas redes sociais: empréstimos cancelados, dificuldade para liberação do dinheiro e cobrança de taxas inesperadas.
O Idec enviou um nota técnica ao Ministério Público reforçando a necessidade da suspensão do consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil. O órgão solicitou ao Tribunal de Contas da União o cancelamento do programa.
“Com problemas de acesso aos canais, a desinformação sobre os processos para a concessão, a demora na liberação do crédito e falta de transparência na divulgação da política de aprovação, aumentam o grau de ansiedade dos beneficiários que têm buscado informações junto aos canais de youtubers. A ausência de educação financeira também. A maioria das operações, quando são confirmadas, são pelo valor máximo. Não há relatos que trazem alertas sobre o risco de endividamento. Informações que indiquem que não é preciso usar todo o recurso de uma só vez. Enfim, um desrespeito com a população mais vulnerável”, explica Ione Amorim.
Num movimento atípico, famílias de baixa renda foram informadas pela Caixa que o dinheiro do consignado vinculado ao Auxílio Brasil só será depositado depois das eleições. O prazo inicial era de 48 horas, mas banco informou agora que o dinheiro só deve cair na conta em até 15 dias.
Jenifer Kauane Batista contratou o consignado do Auxílio Brasil pela Caixa no primeiro dia em que estava disponível nas lotéricas. Dois dias depois, o empréstimo foi aprovado e ela foi informada de que o dinheiro seria liberado em 48 horas. Mas não foi o que aconteceu. Ao checar o aplicativo do banco, o pedido que antes constava como “aprovado” havia voltado para o status “em processamento “.
“Tentei ligar no SAC novamente, mas não atendem. Também estou tentando falar no WhatsApp da Caixa, mas só dá erro. Não sei mais o que eu faço”, conta ela, que mora em Paranaguá (PR) com o marido e o filho de dois anos. Jenifer contratou um empréstimo de R$ 2,3 mil reais. “Esse dinheiro iria me ajudar muito para pagar contas atrasadas e comprar coisas para a minha casa”, diz
Em grupos de WhatsApp, Facebook e Telegram, monitorados pelo Estadão, o clima das mensagens é um misto de indignação e revolta de quem ainda não conseguiu receber o dinheiro.
Num dos grupos públicos do Facebook, “Empréstimo Caixa Tem – Auxílio Brasil”, com mais de 280 mil membros, a pergunta mais frequente é “Quem conseguiu receber o empréstimo?” e críticas à Caixa. “É muito humilhante. Eu tenho um print de quando foi aprovado. A menina da Lotérica disse que aparecia no sistema que eu não tinha mais margem e que significava que o empréstimo deu certo. E hoje me apareceu cancelado”, relatou Giovana Verli, de Umuarama, no Paraná. S
Segundo a Caixa, nessas situações, é preciso fazer uma nova solicitação do consignado.
Além de todas as dúvidas, há uma tremenda insegurança com uma enxurrada de fake news em torno do consignado.
“Muitos perguntaram se o Lula ganhar a eleição o consignado será suspenso”, relata a diretora institucional da Rede Brasileira de Renda Básica, Paola Carvalho, uma rede de apoio aos vulneráveis criada durante a pandemia da covid-19 pelo terceiro setor. Segundo ela, essas dúvidas estão se espalhando dentro de grupos dos beneficiários.
(Com Estadão Conteúdo)
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