O Banco Central do Brasil (BCB) manteve, nesta quarta-feira (22), a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, com o objetivo de reduzir a inflação, apesar das pressões do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para reduzir o custo do crédito. O Comitê de Política Monetária do BCB (Copom) informou sua decisão de deixar a taxa Selic sem mudanças pela quinta vez consecutiva, mantendo-a assim em um dos níveis mais altos do mundo. Saiba mais! 💸
“Essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta”, indicou o Copom em comunicado divulgado após a segunda reunião do ano.
Lula, por sua vez, classificou, na terça-feira (21), de “absurdo” o nível da taxa Selic que, segundo ele, atrapalha os investimentos.
Para 2023, o Banco Central tem como meta de inflação um teto de 4,75%, enquanto as projeções do mercado chegam a 5,85%, segundo o último boletim Focus da entidade.
A decisão do comitê coincide com o consenso de uma centena de consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo jornal Valor, que não esperavam movimentos na Selic.
Assim, a taxa Selic ficou no mesmo nível desde agosto do ano passado, quando acabou o ciclo de alta, iniciado em março de 2021, partindo do mínimo histórico de 2%, estabelecido para impulsionar o consumo em plena pandemia.
Já a inflação anualizada permaneceu na casa dos dois dígitos por vários meses, mas o indicador cedeu para 5,6% em 12 meses em fevereiro.
O Copom garantiu em seu comunicado que a decisão de manter a taxa também implica o “fomento do pleno emprego”.
Mas, nas últimas semanas, o governo vinha aumentando a pressão sobre a autoridade monetária para que reduzisse a Selic.
Juros altos encarecem o crédito e, em contrapartida, diminuem o consumo e os investimentos.
“Eu vou continuar batendo, eu vou continuar tentando brigar para que a gente possa reduzir a taxa de juros, para que a economia possa ter investimento”, afirmou o presidente em uma entrevista ao site Brasil 247.
Lula afirma que os juros altos atrapalham o crescimento, freando os investimentos e a geração de emprego, enquanto “temos 33 milhões de pessoas passando fome”.
“Só quem concorda com juros altos é o sistema financeiro, que sobrevive e vive disso e ganha muito dinheiro com especulações”, criticou o presidente.
Mas não é só o governo quem critica a decisão do Copom. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou de “equivocada” a manutenção da Selic, assinalando que uma taxa de juros tão alta é “desnecessária para o combate à inflação e apenas traz custos adicionais para a atividade econômica”.
Outra entidade a levantar a voz contra a manutenção da Selic foi a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), cujo presidente, Josué Gomes da Silva, chegou a classificar o atual patamar da Selic de “pornográfico”.
No último trimestre de 2022, o PIB brasileiro caiu 0,2% precisamente por consequência da taxa de juros, mas registrou um crescimento de 2,9% em estimativa anual (12 meses).
Para 2023, espera-se um crescimento econômico ainda mais fraco, de 0,88%, segundo o boletim Focus.
O Copom destacou a “incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública” como outro dos fatores que pesaram sobre sua decisão.
O governo adiou para abril a apresentação do aguardado arcabouço de controle fiscal para substituir a regra que estipulava um limite para os gastos públicos, o chamado “teto de gastos” atualmente em vigor.
Sem esse arcabouço, o mercado teme que gastos públicos desenfreados aumentem o endividamento e afetem a economia brasileira.
Além disso, o Copom mencionou a crise bancária nos Estados Unidos e na Europa, que elevou “a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”, junto com uma inflação global persistente.
Nesse cenário, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumentou, nesta quarta-feira, as taxas de juros de referência dos Estados Unidos em um quarto de ponto percentual, para a faixa entre 4,75% e 5%, como esperava o mercado.
(com AFP)
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