Os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão fortalecerão os laços militares nesta sexta-feira (18), em uma cúpula inédita em Camp David, perto de Washington, para enviar um sinal de unidade contra a China e a Coreia do Norte.
Lançarão um “programa conjunto de exercícios durante anos” e o “compromisso” de se consultarem em situações de crise, anunciou o principal assessor de segurança da Casa Branca, Jake Sullivan, pouco antes do início do encontro entre o presidente americano, Joe Biden, o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida e o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol.
Essas manobras militares abrangerão “todas as áreas, ar, terra, mar, fundo do mar e no ciberespaço”, disse, prometendo uma maior coordenação na defesa contra mísseis balísticos.
“Estamos inaugurando uma nova era” e “garantimos que vai perdurar”, acrescentou Sullivan.
Ele destacou que essa cooperação trilateral reforçada “não é uma Otan para o Pacífico”.
Estabelecer uma aliança de defesa mútua similar à Organização do Tratado do Atlântico Norte “não é um objetivo explícito”, insistiu, afirmando que a cúpula desta sexta não foi concebida “contra ninguém”, apesar de a China já tê-la criticado duramente.
Também não agrada a Coreia do Norte. Segundo a agência sul-coreana Yonhap, Pyongyang poderia lançar um míssil balístico durante a reunião.
Washington escolheu um cenário especial para a cúpula: Camp David, um lugar intimamente ligado à história da diplomacia americana.
Foi em Camp David, a residência de campo dos presidentes dos EUA perto de Washington, onde os acordos de paz entre Egito e Israel foram assinados em setembro de 1978. Desde 2015 não recebe uma reunião internacional.
Os três líderes já haviam mantido conversas trilaterais à margem de grandes reuniões internacionais, mas esta é a primeira cúpula entre eles e pode ser o prelúdio de uma anual.
Os três países também estabelecerão um canal de comunicação de emergência ao mais alto nível, uma espécie de “telefone vermelho”, em uma região que vive sob a ameaça do programa nuclear norte-coreano e que teme uma invasão chinesa de Taiwan.
Como esperado, Pequim se opõe a esse novo diálogo. Seu ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, deixou isso claro recentemente.
“Não importa o quão loiro você pinte o cabelo ou o quanto você afine o nariz, você nunca pode se tornar um europeu ou um americano, você nunca pode se tornar um ocidental”, disse ele, referindo-se a Seul e Tóquio, em um vídeo compartilhado na mídia oficial do governo. “Devemos saber onde estão nossas raízes”, afirmou.
E exortou China, Coreia do Sul e Japão a “trabalharem juntos”.
Washington quer que Japão e Coreia do Sul se inclinem para o Ocidente. Isso significa superar um passado doloroso: a brutal colonização da península coreana pelos japoneses entre 1910 e 1945.
A Casa Branca sabe que não há unanimidade entre a opinião pública coreana ou japonesa sobre a necessidade de uma aproximação, apesar dos interesses estratégicos compartilhados.
Yoon, um conservador, se tornou rapidamente um aliado próximo dos Estados Unidos e Biden o recebeu em uma visita de Estado, onde o líder sul-coreano encantou o público cantando “American Pie”.
Mas Yoon só pode cumprir um mandato que termina em 2027, diz Scott Snyder, especialista em Coreia do Council on Foreign Relations. É por isso que, explica ele, os sul-coreanos querem institucionalizar a relação “para se proteger contra o risco de reversão” caso um presidente com a mesma opinião não o suceda.
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