Casos de LGBTfobia no futebol subiram 76% no ano passado; torcidas LGBTQIA+ lutam para mudar esse quadro

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou no dia 17 de junho, Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, um relatório do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+, que aponta 76% mais casos de homofobia no futebol do Brasil em 2022 do que no ano anterior. Conversamos com representante do coletivo sobre as formas de luta contra a discriminação e atos de violência dentro e fora dos estádios contra pessoas LGBTQIA+.

Publicado por
Marcela Guimarães

De acordo com o levantamento do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+, no ano passado foram registrados 74 episódios de preconceito ocorridos nos estádios, mídia e redes sociais. Em 2021, eram 42 os s relatos de casos de homofobia no futebol. As ações de preconceito costumam ser feitas em*:

  • xingamentos em campo,
  • cânticos nos estádios,
  • comentários ofensivos.

Onã Rudá, um dos representantes do coletivo e também fundador da torcida LGBTricolor, do Esporte Clube Bahia, reforça que há muitas ações a serem tomadas pelos clubes, pelas federações e pela Justiça Desportiva para coibir a homofobia e educar os torcedores para um ambiente sem discriminação.

Em entrevista ao Curto News, ele cita o Regulamento Geral de Competições (RGC) da CBF de 2023, publicado em fevereiro, que indica a possibilidade de punição esportiva a um clube em caso de discriminação.

“Para a comunidade LGBT no futebol, sem dúvidas nenhuma a mudança e a alteração do RGC e a entrada da CBF nesse debate, fez toda a diferença”, avalia.

O militante pondera, no entanto, que é preciso ir além das punições, já que a transformação passa pela educação da sociedade.

“Não passa apenas pela punição dos atos, mas também pela educação, pela construção de consciência mesmo, de entender a conscientização. É preciso muito mais ações de visibilidade, por que muita coisa que pode ser feita no sentido de que haja mais inclusão no futebol”, defende.

Para Rudá, é preciso construir um protocolo que padronize e oriente de forma direta como todos os árbitros do Brasil devem agir diante de cada situação de discriminação. Hoje há árbitros que paralisam as partidas por causa de cânticos homofóbicos, mas outros nem sequer registram em súmula, o que acaba prejudicando as ações no Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

Clubes e as campanhas de conscientização contra LGBTfobia

“No dia 17 de maio, você vê vários clubes se posicionando nas redes sociais pela causa LGBT, virou uma espécie de regra. Mas nem todos tiram esse discurso do papel”, comenta o jornalista João Abel, autor do livro “BICHA! Homofobia estrutural no futebol“.

Representatividade de pessoas LGBTQIA+ no futebol

Ao Curto, ele enfatizou que as sanções aos clubes por atos discriminatórios das torcidas são importantes, mas é preciso que os times realmente mergulhem em campanhas de conscientização.

“Campanhas para explicar para o torcedor por que aquela atitude é considerada discriminação, e não parte da cultura do futebol como algumas pessoas argumentam. Dentro do futebol, pessoas LGBTQIA+ não se sentem representadas. Torcedores sentem que têm legitimidade para serem homofóbicos com times rivais, exatamente porque os LGBTQIA+ estão à margem no ambiente do futebol, então, como eles não estão ali dentro, não haveria problema em usar essa carga pejorativa”, explica o escritor.

João Abel compara a situação com a luta racial dentro do futebol, que cresceu nos últimos anos devido ao protagonismo de jogadores negros, que também se posicionaram e deram visibilidade para essa bandeira. “Como os LGBTQIA+ não se enxergam incluídos no futebol, a bandeira levada por eles ainda fica marginalizada”, avalia.

De acordo com a RGC, as penalidades aos clubes com torcidas discriminatórias podem ir da advertência e multa de R$ 500 mil, à vedação de registro ou de transferência de atletas e até perda de pontos*.

*(Com informações da Agência Brasil)

Publicada originalmente dia 17 de maio de 2023

Leia também:

Este post foi modificado pela última vez em 28 de junho de 2023 13:49

Marcela Guimarães

Posts recentes

Walt Disney forma unidade de negócios para coordenar o uso de IA e realidade aumentada

A Walt Disney está formando um novo grupo para coordenar o uso da empresa de…

1 de novembro de 2024

HOVER: Modelo de IA compacto domina o controle de humanoides

A Nvidia acaba de publicar uma nova pesquisa apresentando o HOVER, uma pequena rede neural…

1 de novembro de 2024

O ChatGPT agora é um mecanismo de busca com IA

O ChatGPT agora é oficialmente um mecanismo de busca com inteligência artificial (IA). A empresa…

31 de outubro de 2024

Ucrânia lança dezenas de sistemas de IA para ajudar seus drones a atingir alvos

A Ucrânia está usando dezenas de sistemas de inteligência artificial (IA) fabricados localmente para seus…

31 de outubro de 2024

Google Maps usará IA para responder suas perguntas; entenda

A Alphabet, dona do Google, anunciou na quinta-feira (31) um conjunto de recursos que incorporam…

31 de outubro de 2024

Mistério resolvido: líder em geração de imagens de IA revela sua identidade

A startup de design Recraft acaba de anunciar seu novo modelo de inteligência artificial (IA)…

31 de outubro de 2024