A censura chinesa da internet eliminou nesta sexta-feira (14) todas as referências a um protesto em Pequim que incluiu cartazes contra o presidente Xi Jinping e as restrições contra a covid-19, a dois dias do início do 20º Congresso do Partido Comunista. No evento, de grande importância política para o país, o presidente Xi Jinping deve ser confirmado em seu terceiro mandato de cinco anos.
Nesta quinta-feira (13), vídeos e fotos que pareciam mostrar um manifestante perto de uma ponte em Pequim exibindo dois cartazes com críticas ao governo foram divulgados na internet. “Não aos exames de covid, quero ganhar a vida. Não à Revolução Cultural, quero reformas. Não aos confinamentos, quero liberdade. Não aos líderes, quero votar. Não às mentiras, quero dignidade. Não serei um escravo, serei um cidadão”, afirmava um dos cartazes. O outro estimulava os cidadãos a protestar e derrubar o “ditador traidor Xi Jinping”.
Quando os correspondentes da AFP chegaram ao local do suposto protesto, não havia nenhum vestígio dos cartazes ou do manifestante. “Muita gente viu o que aconteceu”, declarou um homem, que trabalha perto do local e pediu anonimato.
Diante disso, no metrô, os passageiros passaram a ser submetidos a controles adicionais de segurança e um exército de voluntários foi mobilizado nos bairros para relatar sobre qualquer movimentação incomum. Na internet, os censores chineses bloquearam qualquer publicação relacionada com o suposto protesto, inclusive a frase “eu vi”.
As manifestações são raras na capital chinesa e os que desafiam o rígido aparelho de segurança do governo enfrentam graves punições. Quando chegou ao poder em 2012, o presidente Xi Jinping passou a reprimir correntes sociais relativamente livres na época, utilizando uma combinação de tecnologia, leis e ideologia para conter a dissidência e as ameaças a seu governo.
As ações são apresentadas como medidas contra criminosos e de proteção à ordem, mas os controles são usados contra dissidentes, ativistas e minorias religiosas. Um dos exemplos de como a China vem mantendo há tempos uma abordagem autoritária de controle social é o que houve com uma mulher que foi presa depois de fazer um desabafo na WeChat, a maior rede social da China.
Após receber uma multa de estacionamento, Wen Chen escreveu uma mensagem criticando os policiais de trânsito. Apesar de tê-la apagado rapidamente, as autoridades conseguiram rastreá-la. A mulher foi presa por “insultar a polícia” e ficou detida por cinco dias por “discurso inapropriado”.
O instituto de investigação Comparitech calcula que, em média, as cidades chinesas têm 370 câmaras de segurança a cada mil habitantes, tornando o país um dos mais vigiados do mundo. Londres tem 13 a cada mil habitantes e Cingapura, 18. O programa nacional de vigilância Skynet foi ampliado e tem câmeras que reconhecem rostos, roupas e idade. “Somos vigiados o tempo todo”, comentou à AFP um ativista, sob anonimato.
O controle do Partido Comunista é mais rígido na região de Xinjiang, especialmente em relação às minorias muçulmanas por motivos de combate ao terrorismo, segundo as autoridades.
A pandemia reforçou o sistema com rastreamentos por aplicativos em celulares, que determinam onde as pessoas podem ir segundo um código com as cores verde, amarela e vermelha. Leis impedem a compra de cartões SIM sem fornecimento de dados pessoais e impuseram a identificação para a entrada em qualquer tipo de transporte.
Wang, um dissidente chinês que usou um pseudônimo para falar com a AFP, lembrou que antes do atual presidente, os controles não eram tão acirrados e criticar o ex-presidente Jiang Zemin na internet “era muito comum”. Ele diz que desde 2013 acompanha no Twitter milhares de casos de pessoas detidas, multadas ou que receberam alguma sanção depois de se manifestarem.
Graças a um sistema de verificação de nomes e a colaboração entre policiais e plataformas de redes sociais, muitos foram punidos por ofensas na internet. Plataformas como Weibo possuem milhares de moderadores de conteúdo que bloqueiam automaticamente palavras-chave sensíveis, como o nome da tenista Peng Shuai, que no ano passado acusou uma autoridade chinesa de agressão sexual.
Muitas dessas tecnologias de vigilância são usadas em outros países, mas o grande problema segundo uma pesquisadora de Yale é outro. “A verdadeira diferença na China é a ausência de uma imprensa independente e uma sociedade civil capazes de fazer críticas significativas ou apontar os problemas dessas inovações”, afirmou à AFP Jeremy Daum, do Centro Paul Tsai sobre a China na Universidade de Yale.
O presidente Xi Jinping moldou a sociedade chinesa e agora o Partido Comunista determina o que os cidadãos “devem saber, sentir, pensar, dizer e fazer”, disse à AFP Vivienne Shue, professora emérita de estudos contemporâneos chineses da Universidade de Oxford. Os jovens, segundo ela, são afastados de influências externas. Livros internacionais são censurados e autoridades proíbem institutos educacionais de contratarem professores estrangeiros.
(AFP)
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