Com decepções no masculino e no feminino, Seleção perde prestígio no cenário mundial

A lembrança de Ronaldo ou Marta em uma final de Copa do Mundo está cada vez mais distante. O poder do Brasil tem se tornado cada vez menor no principal torneio de futebol.

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Agence France-Presse

O último baque veio na quarta-feira (2), com a seleção feminina sendo eliminada na fase de grupos do Mundial pela primeira vez desde 1995.

Mas antes houve outros dois em menos de um ano: a Seleção masculina foi eliminada nos pênaltis pela Croácia na Copa do Catar, em dezembro, e o Sub-20 caiu para Isarael (3 a 2), em junho, na mesma fase do Mundial da categoria.

Para ambas as equipes masculinas, o hexacampeonato vem escapando. Os profissionais não levantam a Copa do Mundo desde 2002, enquanto o último título dos jovens foi em 2011.

Marta, a lendária camisa 10 da seleção feminina, se despediu de seu sexto e último Mundial de mãos vazias, 16 anos depois do vice-campeonato na China, em 2007, com derrota para a Alemanha por 2 a 0, em sua única final no torneio.

Embora não fossem favoritas ao título na Austrália e Nova Zelândia este ano, a expectativa era de que as brasileiras chegassem às oitavas de final sem grandes problemas.

“Não era, nem nos meus piores pesadelos, a Copa que eu sonhava”, disse a atacante de 37 anos, titular apenas no empate em 0 a 0 com a Jamaica, que selou a eliminação.

“Realidades diferentes”

Considerada a melhor jogadora da história e maior artilheira das Copas, com 17 gols, Marta também esteve presente quando a seleção perdeu as finais dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e de Pequim 2008.

Ela é o símbolo de um Brasil dominante na América do Sul (venceu oito das nove Copas América femininas realizadas até agora) e que ganhou relevância no mundo, mas que quando sai da região recebe um choque de realidade, assim como a Seleção masculina.

“São realidades diferentes, da seleção de mulheres você não pode exigir a mesma coisa que se exige normalmente dos homens porque o futebol feminino é razoavelmente recente no Brasil”, disse à AFP o jornalista Juca Kfouri.

“A exceção se deu porque nunca uma seleção foi tão bem preparada e respaldada para jogar um Mundial”, acrescentou. “Ficou muito clara a falta de preparo mental das meninas para ganhar”.

Desde o vice-campeonato em 2007, a seleção feminina nunca passou das quartas de final e adversárias regionais vêm crescendo, como a Colômbia, único país sul-americano a se classificar para as oitavas no Mundial de 2023.

Nem mesmo a contratação da treinadora sueca Pia Sundhage, bicampeã olímpica à frente dos Estados Unidos, deu resultado.

“Vou me esforçar muito para buscar jogadoras novas (…) Espero ter muitas para escolher”, disse Pia após a eliminação.

Já o time masculino, depois da conquista do penta, só chegou às semifinais em 2014, quando foi atropelada pela Alemanha por 7 a 1. De lá para cá, a arquirrival Argentina foi campeã do mundo no Catar e venceu a Copa América de 2021 em pleno Maracanã.

Queda de qualidade?

Há diversas razões para explicar o mau momento do futebol brasileiro, aliviado exceto pelo sucesso dos clubes do país na América do Sul.

Embora o Brasil continue sendo a principal fábrica de jogadores, a qualidade está em questão: não há uma substituta equiparável para Marta e nenhum homem brasileiro ganha a Bola de Ouro desde 2007 (Kaká). Neymar, a grande esperança, conviveu ao longo da carreira com polêmicas e lesões.

“O problema é que hoje não temos a qualidade de jogadores que tínhamos em outras épocas”, opinou recentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os outros países evoluíram e o Brasil, dizem especialistas, vende seus jogadores ainda muito jovens, e estes acabam adquirindo características europeias, perdendo as habilidades que tornam seu futebol mundialmente admirado: dribles, ousadia, magia.

“Acabam de alguma maneira emasculando o futebol brasileiro”, lamenta Kfouri, que também adverte sobre a falta de um projeto esportivo.

Uma prova disso, diz ele, é o que acontece com o time masculino: Fernando Diniz dividirá o comando do Fluminense com a Seleção até meados de 2024, quando o italiano Carlo Ancelotti deve assumir.

“A Seleção Brasileira tem trocado de treinadores que não têm nada a ver um com outro”, afirma Kfouri. “Eu não descarto nenhuma possibilidade, como não descarto, a cada Copa, que o Brasil ganhe a próxima Copa do Mundo. A hegemonia que o Brasil teve num determinado momento, eu sim digo, independente do fato de ganhar a Copa do Mundo, mas aquela coisa encantadora que só o Brasil parecia ter, acho que aqui não vai acontecer mais”.

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