Combates intensos continuam no Sudão, que vive uma "catástrofe humanitária", mas o vizinho Sudão do Sul anunciou nesta terça-feira (2) que conseguiu um "acordo preliminar" entre os dois generais em guerra para uma trégua de uma semana.
Combates intensos continuam no Sudão, que vive uma “catástrofe humanitária”, mas o vizinho Sudão do Sul anunciou nesta terça-feira (2) que conseguiu um “acordo preliminar” entre os dois generais em guerra para uma trégua de uma semana.
“Ouvem-se tiros, aviões militares e disparos antiaéreos”, informou um residente de Cartum à AFP, quando uma trégua anterior, oficialmente em vigor, mas violada desde o início, terminará na quarta-feira à meia-noite.
Os líderes do exército e as forças paramilitares em guerra no Sudão concordaram com uma trégua de sete dias, de 4 a 11 de maio, em conversa por telefone com o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, informou o Ministério das Relações Exteriores do Sudão do Sul nesta terça.
“O general Abdel Fattah al-Burhan (…) e o general Mohamed Hamdane Daglo (…) concordaram em princípio com uma trégua de sete dias, de 4 a 11 de maio”, disse a pasta em comunicado.
Ambos “deram o seu acordo (…) para nomear representantes para conduzir as negociações de paz que devem ser realizadas no local que escolherem”, diz o comunicado.
Nenhuma das tréguas anteriores foi respeitada pelos beligerantes.
Os combates, iniciados em 15 de abril, já causaram mais de 500 mortos, principalmente em Cartum e Darfur (oeste), e milhares de feridos, segundo um balanço amplamente subestimado.
O conflito afundou o país, um dos mais pobres do mundo, em uma “verdadeira catástrofe”, segundo a ONU.
Mais de 330 mil pessoas foram deslocadas e outras 100 mil partiram para os países vizinhos, segundo a ONU, que estima que haverá oito vezes mais refugiados.
Os que ficaram sofrem com a falta de água, eletricidade e comida em Cartum, uma das cidades mais quentes do mundo.
O Sudão está mergulhado em um conflito desde 15 de abril, quando estourou uma guerra pelo poder entre o chefe do exército, o general Abdel Fattah al-Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), lideradas pelo general Mohamed Hamdane Daglo.
Um funcionário da ONU no Sudão, Abdou Dieng, advertiu na segunda-feira que a situação caminha para uma “catástrofe total”.
O presidente queniano, William Ruto, disse que o conflito atingiu “níveis catastróficos” e os generais rivais se recusaram “a atender aos apelos da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), da União Africana e da comunidade internacional para um cessar-fogo”.
Em uma reunião virtual com funcionários das Nações Unidas, Ruto afirmou que é imperativo encontrar formas de enviar ajuda humanitária, “com ou sem cessar-fogo”.
Burhan e Daglo, atualmente rivais, estabeleceram uma aliança no de Estado de 2021 para afastar os civis do governo após a derrubada do ditador Omar al Bashir, o que interrompeu a transição no país.
Os dois lados violaram várias promessas de trégua, a mais recente um cessar-fogo de 72 horas anunciado no domingo à noite.
O Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) das Nações Unidas alertou que o programa de ajuda para o Sudão em 2023 conta com apenas 14% do financiamento e que faltam 1,5 bilhão de dólares para enfrentar a crise humanitária, agravada pelos combates.
O secretário de assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths, desembarcou na segunda-feira na capital do Quênia, Nairóbi, para uma missão que pretende encontrar formas de enviar ajudas aos milhões de civis bloqueados no Sudão.
O conflito inclui os bombardeios de hospitais e saques de instalações de apoio humanitário, o que obrigou várias organizações estrangeiras a suspender as operações no país.
O ACNUR teme que mais de 800.000 pessoas possam fugir para os países vizinhos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que os combates sobrecarregaram o sistema de saúde do país, que já era extremamente frágil. Na capital, apenas 16% dos hospitais estão funcionando em plena capacidade.
O caos também abala a capital do estado de Darfur Ocidental, Geneina, onde pelo menos 96 pessoas morreram desde o início dos combates, segundo a ONU.
A região de Darfur ainda está muito marcada pela guerra que começou em 2003, quando o ditador Al Bashir recrutou as milícias de “Janjaweed” para atacar os rebeldes de minorias étnicas.
A guerra, que incluiu uma campanha de terra arrasada, deixou quase 300.000 mortos e 2,5 milhões de deslocados, de acordo com a ONU.
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