Corrupção na América Latina consolida a criminalidade, afirma Transparência Internacional

Os elevados níveis de corrupção na América Latina e a ausência de medidas para combater o problema favorecem as redes criminosas e aprofundam a violência em uma região com taxas de homicídio altas, adverte a organização Transparência Internacional (TI).

Publicado por
João Caminoto

Desde 1995, o Índice de Percepção da Corrupção da TI classifica anualmente 180 países e territórios em uma escala que vai de zero (muito corruptos) a 100 (muito honestos), usando os dados de instituições como o Banco Mundial ou de empresas privadas de consultoria.

Dinamarca (90), Finlândia (87) e Nova Zelândia (87) permanecem como os países menos corruptos do mundo, de acordo com o relatório publicado nesta terça-feira. Somália (12), Síria (13) e Sudão do Sul (12) têm os piores índices de percepção de corrupção.

Os dados globais revelam uma estagnação da luta contra a corrupção e destacam a relação entre este flagelo e a violência. “A corrupção e o conflito se retroalimentam e ameaçam a paz duradoura“, afirma o relatório. O fenômeno é particularmente visível na América Latina.

Os países com menores pontuações geralmente estão em guerra ou enfrentam surtos de violência. Este é o caso de Venezuela (14), Haiti (17), Nicarágua (19) e Honduras (23), que têm as piores notas da América Latina.

Nestes países, as linhas entre instituições públicas e redes criminosas são tênues, aponta a TI. O índice dos últimos três diminuiu consideravelmente desde 2017.

Uruguai (74) e Chile (67) são os países com as melhores pontuações da região, seguidos pela Costa Rica (54), mas esta nação registrou sua menor pontuação histórica devido a casos recentes de corrupção e denúncias de suposto financiamento ilícito da campanha eleitoral do atual presidente Rodrigo Chaves.

Os demais países da América Latina têm pontuações inferiores a 50, como Cuba (45), Colômbia (39), Argentina, Brasil (38), Equador, Panamá, Peru (36), El Salvador, República Dominicana (33), Bolívia, México (31) e Paraguai (28).

“Avanço do crime organizado”

A falta de avanços na luta contra a corrupção “levou ao enfraquecimento na região das instituições democráticas e ao aumento da violência, assim como o avanço do crime organizado nas instituições públicas”, alertou Luciana Torchuaro, assessora para a América Latina da TI.

“Os governos frágeis falham em seu trabalho para deter as redes criminosas, o conflito social e a violência”, ressaltou em um comunicado Delia Ferreira Rubio, presidenta da ONG.

Em uma análise, a TI cita a instabilidade que abala o Peru, com seis mudanças de governo em seis anos e onde cinco ex-presidentes são investigados por corrupção, incluindo Pedro Castillo. A repressão das manifestações motivadas por sua destituição em dezembro provocou mais de 50 mortes até o momento.

Em outros países, alerta, os organismos públicos foram cooptados pelas “elites e pelo crime organizado”. As autoridades responsáveis pela garantia do cumprimento da lei ignoram atividades ilícitas ou violações dos direitos humanos em troca de dinheiro.

Ameaças ao meio ambiente

Na Venezuela, que tem a pior nota da América Latina, grupos criminosos mantêm suas atividades no setor de mineração em troca de pagamentos irregulares aos militares, denuncia a TI. As atividades econômicas ilegais representaram 21% do PIB em 2021.

O relatório também menciona Guatemala (24) e Honduras, onde “há evidências que sugerem” a influência do crime organizado na política. Na Guatemala, a situação afeta jornalistas, ativistas e procuradores – algumas pessoas foram forçadas a seguir para o exílio.

Para tentar reverter a tendência, a ONG lamenta que Honduras, El Salvador e o Equador tenham declarado estados de emergência, uma medida que reduz a “transparência e a prestação de contas”.

No relatório que representa uma fotografia de 2022, a TI a união entre crime e interesses políticos representa um perigo para o meio ambiente.

“As redes criminosas favorecem o contrabando de animais silvestres, o corte e queima ilegal de terras, a extração ilegal de ouro e o desmatamento”, denuncia.

Os homicídios de ativistas do meio ambiente permanecem impunes devido à infiltração destas redes nos sistemas de justiça, critica. Em 2021, 138 ativistas foram mortos na Colômbia, 42 no México e 27 no Brasil.

(com AFP)

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João Caminoto

Jornalista com mais de 30 anos de experiência, ocupei diversos cargos - desde repórter, passando por correspondente internacional até diretor de redação - em diversas casas, como o Estadão, Broadcast, Época, BBC, Veja e Folha. Me sinto privilegiado em ter abraçado essa profissão. Apaixonado pela minha família e pelo Corinthians.

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