Esse tem sido o único assunto possível entre os brasileiros nas redes. A história documental do podcast "A mulher da Casa Abandonada" se tornou pano de fundo de um fenômeno digital com diversas facetas, e a gente vai te explicar passo a passo o que aconteceu.
Quem ainda não ouviu o podcast do momento, assinado pelo jornalista Chico Felliti da Folha de S.Paulo, provavelmente se sentiu um forasteiro no universo digital nesses últimos tempos. Em questão de dias após sua data de lançamento (08 de junho), o programa alcançou recordes de audiência e avaliações (Folha) em plataformas de streaming no Brasil e no mundo.
No centro da narrativa está a casa abandonada de Margarida Bonetti, uma brasileira que há 24 anos é foragida do FBI, investigada por manter uma mulher negra em cárcere privado e outras condições análogas à escravidão em sua residência nos EUA. Os crimes foram praticados em conjunto com seu marido, Renê Bonetti, que cumpriu 6 anos e meio de prisão em solo americano. Margarida driblou a Justiça de dois países e vive em uma mansão em um dos bairros mais nobres de São Paulo, o Higienópolis.
A reportagem por trás do podcast revela com profundidade e detalhes inéditos a forma que o casal “tirou direitos e dignidade” da trabalhadora, que era analfabeta e teve migração forçada aos EUA. Na abertura do programa, Chico descreve o momento em que encontrou as denúncias dos crimes em uma reportagem do Newsweek cujo título era “Slavery’s New Face”. A nova cara da escravidão.
O true crime, gênero de tramas sobre crime que é baseado em fatos reais baseados em histórias, têm sido um crescente interesse entre o público jovem
Para parte do público, a força da história da “Mulher da Casa Abandonada” está na exposição do problema e dos responsáveis. Muitas discussões levantaram a urgência em dar o peso necessário aos crimes de racismo e retrocessos em direitos.
Essa thread do Twitter feita pelo Marcos Queiroz explicou como o comportamento de Margarida pode ser mais comum e enraizado do que parece no Brasil. A submissão de qualquer pessoa ou trabalhador à situações análogas à escravidão é crime. Suspeitas ou casos podem ser denunciados por ligação telefônica ao número 100 – Disque Direitos Humanos.
Com viralização do podcast e sua história, fãs e internautas passaram a se queixar do desvio da atenção (UOL) ao crime principal contado na história. Para eles, o debate sobre a escravidão contemporânea e a impunidade Margarida foram substituídos pela espetacularização e banalização do caso. Esse desvio também é relacionado diretamente ao racismo estrutural. Ana Freitas discordou da crítica, dizendo que “nem todo jornalismo de denúncia é espetacularização” nesse tweet que teve mais de 29 mil curtidas. A rajada de polêmicas continua.
Diversos fãs do programa começaram ir até mansão e se fazer reuniões em sua fachada. O endereço foi descoberto e amplamente divulgado na internet. “Virou uma micareta” (Exame), disse o próprio apresentador, que teme que a “violência seja respondida com violência”.
Na última quarta-feira (20), a casa abandonada do Higienópolis foi alvo de busca e apreensão de agentes policiais que tinham mandato para checar se Margarida sofre de algum distúrbio psiquiátrico e se foi vítima de algum crime que fere o Estatuto do Idoso. Durante curiosos tentaram subir no muro do terreno para acompanhar a ação na casa, que têm condições insalubres de acordo com os agentes. O site UOL contou nesta reportagem como foi a entrada da polícia, que arrombou a porta para poder entrar na casa.
Durante a operação, a ativista pelos direitos dos animais Luisa Mell registrou em live o momento em que tentou resgatar animais que viviam na mansão. O resgate gerou embate físico entre Margarida, um homem e Luisa, que conseguiu levar três cães. Muitos internautas viram graça e a participação de Luisa no caso virou meme.
Foto do topo: Reprodução/Instagram @amulherdacasaabandonada
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