“Diz-me em quem votas e te direi se dá match”: a política mudou a paquera em aplicativos

Em um Brasil dividido, onde a política e a religião afastam e aproximam pessoas, a paquera nos aplicativos de relacionamento está passando por mudanças. Posicionamento político tem sido uma das "características" importantes na hora do match.

Publicado por
Marcela Guimarães

“Por favor, me diga que você não é de esquerda, você é bonita demais pra ser”. Mas Vivian é apoiadora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e por causa disso, a paquera no Tinder está fadada ao fracasso.

Esta é uma demonstração clara de como a polarização política no Brasil influencia as relações – inclusive as amorosas – neste ano eleitoral.

Faltando cerca de três semanas para o segundo turno das eleições presidenciais, em 30 de outubro, entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e Lula, a orientação política virou arma de sedução ou de descarte em aplicativos de relacionamentos, como Tinder, Bumble, Happn e Grindr.

“Não acho sentido em me relacionar com pessoas de direita”, sentencia Gabriela S., uma psicóloga de São Paulo de 25 anos, que não se diz disposta sequer a dividir uma cerveja com quem associa, por exemplo, ao racismo ou ao desprezo com a comunidade homossexual.

O filtro político é o “mais usado pelos brasileiros”, diz Javier Tuiran, diretor de comunicações do Bumble para a América Latina.

O uso desta ferramenta “inclusive aumentou nos meses que antecederam” o primeiro turno, celebrado em 2 de outubro, no qual o ex-presidente Lula chegou na frente com 48,43% dos votos, contra 43,2% do presidente, explica Tuiran.

Aplicativo para esquerdista: para não acordar com um nostálgico da ditadura

Você sabia que existe um aplicativo para encontros de pessoas de esquerda? O Lefty, exclusivo para esquerdistas. “A busca por um companheiro pode ser difícil por si só. Não ter essa possível incompatibilidade (política) é de grande ajuda para muitas pessoas”, diz Alex Felipelli, presidente da Similar Souls, proprietária do aplicativo com 15.000 usuários, que inclusive mede o nível de ativismo.

Outro caso é o pt.inder, uma conta no Instagram com mais de 26.000 seguidores, que “busca gerar interações, até com um espaço de anúncios entre opositores a Bolsonaro”, explica sua criadora, Maria Goretti.

Esta advogada de 38 anos se inspirou “no temor de amigas de conhecerem alguém incrível à noite e perceberem de manhã que ele é um nostálgico da ditadura ou outras ideias bolsonaristas”.

Segundo Goretti, sua iniciativa já colheu vários sucessos, coroados com casamento.

Grupo de paquera para bolsonaristas

Os eleitores de Bolsonaro, por sua vez, podem aderir ao “Bolsolteiros”, grupo do Facebook com cerca de 6.700 membros.

Elaine Souza, uma assistente social de 46 anos, iniciou o grupo em 2019 com o mesmo espírito de evitar encontros indesejados: “a esquerda defende o que desaprovamos. Ser de direita já é meio caminho andado” na busca por um parceiro.

Fonte: AFP

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Marcela Guimarães

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