Os guatemaltecos vão escolher, em um mês, seu novo presidente, em eleições marcadas por denúncias de fraude após a exclusão de vários candidatos pelo partido no poder, acusado de querer consolidar um sistema autoritário.
O empresário Carlos Pineda foi quem recebeu o golpe mais recente, ao ser suspenso pela Justiça após a impugnação de um partido adversário por supostas irregularidades em sua candidatura. A decisão foi acatada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Pineda alcançou o primeiro lugar nas pesquisas após se popularizar nas redes sociais, principalmente no TikTok. Agora, espera que a Corte Constitucional decida uma apelação a seu favor.
No total, são 23 candidatos à Presidência, algo comum na Guatemala. Em uma pesquisa do diário Prensa Libre no início de maio, Pineda tinha 23,1% das intenções de voto, seguido pela ex-primeira-dama social-democrata Sandra Torres, com 19,5%.
Em seguida, com 10,1%, vinha o ex-funcionário da ONU Edmond Mulet (centro) e, com 9,2%, a conservadora Zury Ríos, filha do falecido ex-ditador Efraín Ríos Montt (1982-1983).
As eleições estão previstas para 25 de junho, com 9,3 milhões de guatemaltecos chamados a eleger o substituto do presidente de direita Alejandro Giammattei, rejeitado por 75% da população, segundo outra pesquisa do periódico.
Se um candidato não alcançar 50% mais um dos votos, os dois mais votados se enfrentarão em 20 de agosto. A reeleição presidencial é proibida.
“Os poderes ocultos em torno do governo (…) estão conspirando para me tirar da corrida eleitoral”, denunciou Pineda.
Antes de sua exclusão, a campanha já gerava críticas pelo TSE ter deixado de fora a líder indígena Thelma Cabrera (esquerda), e Roberto Arzú (direita), filho de ex-presidente Álvaro Arzú (1996-2000), dois candidatos fortes.
“Há um panorama pré-configurado de quem são os candidatos, que exclui os que geram incômodos e mantém os favoráveis ao mesmo sistema”, disse à AFP o diretor da Ação Cidadão, braço local da Transparência Internacional, Edie Cux.
O candidato vetado para o cargo de vice-presidente de Cabrera, Jordán Rodas, afirmou que o país está cometendo uma nova modalidade de “fraude eleitoral” com o envolvimento do “Estado por meio da estrutura orgânica judicial”.
Rodas não foi inscrito após ser denunciado por um suposto ato de corrupção, sobre o qual se defendeu, mas suas apelações foram rejeitadas pela Justiça.
Para alguns analistas, esta nação vive desde 2019 um retrocesso democrático pelo fim antecipado da Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), ordenado pelo ex-presidente Jimmy Morales (2016-2020).
Como um ente da ONU, a CICIG revelou casos emblemáticos de corrupção e provocou, em 2015, a renúncia do então presidente Otto Pérez (2012-2015), condenado por fraude aduaneira.
Sob o mandato de Giammattei, muitos ex-promotores que trabalharam com a CICIG foram presos, a maioria acusados de suposto abuso de autoridade.
Os processos penais, considerados como uma “vingança”, foram iniciados a pedido da procuradora-geral Consuelo Porras, próxima a Giammattei. Em 2012, Washington incluiu-a em uma lista de atores “corruptos”, após ela destituir um promotor que tentou investigar o presidente.
O país também enfrenta denúncias de ataques à liberdade de expressão com a prisão de José Rubén Zamora, proprietário do diário elPeriódico, que responde a um polêmico processo por lavagem de dinheiro.
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