Em meio ao choque pelo assassinato a tiros de um candidato e da violência vinculada ao narcotráfico, o Equador votará no domingo (20) em uma eleição antecipada para definir um novo presidente e acabar com uma crise institucional.
O presidente de direita Guillermo Lasso, encurralado por um julgamento político, dissolveu o Congresso, de maioria opositora, em maio e convocou eleições gerais antecipadas.
Porém, o assassinato do candidato à presidência Fernando Villavicencio, a apenas 11 dias da votação, quando saía de um comício, ofuscou a campanha.
“São eleições completamente atípicas, em uma situação basicamente de horror que o Equador está atravessando pela violência que já estava presente, mas que se manifesta de forma mais aguda e atroz com o assassinato político”, declarou à AFP a cientista política Anamaría Correa Crespo, coordenadora de Relações Internacionais da Universidade São Francisco de Quito.
O crime alterou o panorama eleitoral. Luisa González, a candidata do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), é a favorita nas pesquisas, mas sem um índice suficiente nas intenções de voto para evitar o segundo turno.
Para vencer no primeiro turno, uma candidatura deve receber 40% dos votos válidos, com uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo lugar.
Atrás de González nas pesquisas aparecem o jornalista Christian Zurita, amigo e substituto de Villavicencio na disputa, o empresário de direita Jan Topic, o líder indígena Yaku Pérez e o ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner.
Também serão eleitos os 137 membros da Assembleia Nacional para completar o atual mandato de quatro anos, que vai até maio de 2025.
Em um país com voto obrigatório, quase 13,4 milhões de 18,3 milhões de equatorianos devem comparecer às urnas no domingo entre 7H00 e 17H00 (9H00 e 19H00 de Brasília).
O rosto do falecido Villavicencio aparece nas cédulas de votação ao lado de outros sete candidatos, pois os documentos já estavam prontos quando ele foi baleado por um assassino de aluguel colombiano.
Pouco antes do crime, o jornalista e ex-congressista havia acusado o líder do grupo criminoso ‘Los Choneros’, que está detido e é aliado do cartel mexicano de Sinaloa, de ameaçá-lo de morte.
Ele também havia denunciado parlamentares, incluindo alguns ‘correístas’, ao Ministério Público por suposto envolvimento em um plano para matá-lo.
Após o assassinato, a popularidade de Luisa González foi afetada.
Seu mentor Correa e Villavicencio eram grandes rivais desde que uma das reportagens de Villavicencio e Zurita teve como consequência a condenação à revelia do ex-presidente a oito anos de prisão por corrupção.
“Venceríamos no primeiro turno, mas o assassinato de Villavicencio alterou o tabuleiro eleitoral”, admitiu Correa, que mora na Bélgica desde que deixou o poder.
No exílio, ele aponta um “complô político” para acusar o ‘correísmo’ pelo crime e beneficiar a direita “para alcançar o segundo turno, em que todos se unam e nos vençam”.
A cientista política Anamaría Correa Crespo Correa não acredita, no entanto, que “o impacto será tão forte a ponto de alterar o fato de que Gonzáles estará no segundo turno”, marcado para 15 de outubro.
Luisa González liderava duas pesquisas recentes (com 24% e 24,9%). Uma delas, do instituto Cedatos, mostrava Villavicencio em segundo lugar (12,5%) e Jan Topic em terceiro (12,2%).
Para o analista Blasco Peñaherrera Solah, o ‘correísmo’ pode receber um “castigo” nas urnas. “Vamos ter um voto emotivo”, como aconteceu em 1990 na Colômbia, quando o liberal César Gaviria foi eleito depois de substituir Luis Carlos Galán, um ex-jornalista que desafiava o narcotráfico e foi assassinado por criminosos.
Topic, ex-membro da Legião Estrangeira Francesa, promete linha dura contra os grupos criminosos, em um discurso similar ao do presidente de El Salvador Nayib Bukele.
Correa Crespo aponta o aumento da popularidade de Topic e que ele aparece na liderança em algumas pesquisas.
Nas últimas posições aparecem o candidato de direita Daniel Noboa e os de centro-direita Xavier Hervas e Bolívar Armijos.
Durante a campanha também foram assassinados um prefeito, um candidato a deputado e um dirigente local do ‘correísmo’.
“Estamos vivendo momentos muito duros para nossa democracia”, afirma a cientista política, para quem “o avanço do narcotráfico no Equador (…) tem vários anos. Tem sido um fenômeno talvez silencioso, mas que está mostrando seu poder”.
O Equador enfrenta um embate do narcotráfico e do crime organizado.
Grupos vinculados aos cartéis mexicanos e colombianos em guerra pelo controle de territórios provocaram massacres em penitenciárias, com mais 430 detentos mortos desde 2021, e um recorde da taxa de homicídios no país, com 26 para cada 100.000 habitantes em 2022, quase o dobro do índice registrado no ano anterior.
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