Uma pesquisa inovadora realizada no Laboratório de Bioquímica e Imunologia de Artrópodes do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP trouxe uma perspectiva promissora para o combate à febre maculosa brasileira. Pesquisadores identificaram uma proteína que associada à sobrevivência do carrapato-estrela, vetor da febre maculosa brasileira. Essa descoberta pode abrir caminho para o desenvolvimento de uma vacina, que aplicada em animais, seria eficaz contra essa doença.
Controlar a população de carrapatos é uma medida crucial para interromper a transmissão da doença para os seres humanos e evitar complicações graves da febre maculosa.
A pesquisa liderada por Marcelly Nassar, primeira autora do estudo, identificou uma proteína específica expressa durante a alimentação do carrapato-estrela, chamada proteína inibidora da apoptose. Essa proteína desempenha um papel crucial na sobrevivência do carrapato. Os resultados do estudo foram publicados na renomada revista científica Parasites & Vectors.
Com base nessa descoberta, surge a possibilidade de desenvolver uma vacina contra o carrapato, visando essa proteína como alvo. Aplicado no animal – como capivaras e cavalos – o carrapato que se alimentar dele morrerá, interrompendo o ciclo de transmissão da bactéria.
Atualmente, a pesquisadora Marcelly faz testes da aplicação do imunizante em animais em sua pesquisa de doutorado.
No Brasil, a bactéria Rickettsia rickettsii – que provoca a febre – é transmitida por duas espécies de carrapatos: o carrapato-estrela, mais comum, e o Amblyomma aureolatum, encontrado na região metropolitana de São Paulo. A bactéria é transmitida de uma geração de carrapatos para outra, colonizando os ovários desses aracnídeos.
Segundo pesquisadores, o número de casos de infecção pela bactéria que causa a febre maculosa no Brasil não justifica a vacinação em humanos. No entanto, controlar a população de carrapatos é fundamental para combater a doença e evitar mortes.
“A diminuição da densidade populacional dos carrapatos por uma estratégia vacinal, consequentemente, interromperia em grande parte a transmissão da doença para os seres humanos”, explica a pesquisadora Marcelly Nassar. “É uma estratégia vacinal diferente, mas espera-se que a resposta no hospedeiro seja a mesma”, descreve a pesquisadora.
O diagnóstico precoce da febre maculosa é um desafio devido à falta de um teste laboratorial efetivo nos estágios iniciais da doença.
A reação de imunofluorescência indireta, atualmente utilizada para o diagnóstico, só se torna confiável após mais de dez dias do início dos sintomas,, quando o corpo já produziu anticorpos. Portanto, o tratamento com antibiótico após esses 10 dias não será mais eficaz para combater a doença, podendo levar à morte.
(Fonte: Jornal da USP)
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