Cientistas brasileiros sequenciaram mais de 3,8 mil genomas do Sars-CoV-2 (causador da covid-19) referentes a casos registrados em oito estados brasileiros entre fevereiro de 2020 e junho de 2021. O objetivo era entender como o vírus circulou e acompanhar a evolução da pandemia considerando as características da população brasileira.
Um artigo recém-publicado na revista Nature Microbiology detalha dinâmicas de circulação do coronavírus no Brasil e faz um retrato das duas primeiras ondas da covid-19. Entre outros resultados, o trabalho discute o papel da mobilidade populacional, das medidas de restrição a deslocamentos e da emergência das primeiras variantes na disseminação da doença.
“A geração de genomas e a análise dos dados é crucial para entender e acompanhar a evolução de patógenos, especialmente considerando a circulação de múltiplos microrganismos no Brasil, como Sars-CoV-2, dengue, zika, chikungunya e monkeypox, entre outros. Isso ressalta a necessidade de mantermos ativos os sistemas de monitoramento”, explica a primeira autora do artigo, a pesquisadora visitante do Laboratório de Flavivírus do IOC/Fiocruz, Marta Giovanetti.
Liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Instituto Butantan e Universidade de São Paulo (USP), o estudo contou com a participação de mais de cem cientistas, que atuam em instituições de oito países: Brasil, Paraguai, Itália, África do Sul, Reino Unido, Portugal, Estados Unidos e Austrália.
O Estudo analisou genomas de todo o Brasil. No mapa, os círculos indicam o volume de sequências genéticas referentes a cada estado. No gráfico, as cores sinalizam as diferentes linhagens virais detectadas.
“Como pesquisadores, nós temos a obrigação de gerar dados para tentar entender os processos de dispersão de patógenos com potencial endêmico e epidêmico e, ao mesmo tempo, informar as autoridades de saúde e a população. O preprint permite esse rápido compartilhamento”, pontou a pesquisadora Marta.
O estudo aponta que a maior parte das introduções do coronavírus no Brasil ocorreu antes da implantação de medidas restritivas, como fechamento de escolas e negócios. A maioria das cepas foi introduzida a partir da Europa, com uma estimativa de 114 introduções independentes antes de abril de 2020. No período mais intenso de restrições, de abril até agosto de 2020, 33 introduções do coronavírus foram registradas.
Apesar do grande número de importações, houve aproximadamente 10 vezes mais eventos de exportação de linhagens do Brasil para o exterior, considerando todo o período analisado.
A pesquisa sequenciou mais de 3,8 mil genomas do Sars-CoV-2 referentes a casos registrados em oito estados brasileiros entre fevereiro de 2020 e junho de 2021. Além do IOC/Fiocruz, Instituto Butantan e USP, Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) de cinco estados brasileiros e do Paraguai, Instituto Carlos Chagas (Fiocruz-Paraná) e Hemocentro de Ribeirão Preto (SP) colaboraram com os sequenciamentos.
O volume de sequenciamentos representa cerca de 20% do total de genomas decodificados no Brasil no período do estudo. Nas análises, os pesquisadores também analisaram cerca de 13 mil genomas disponíveis em bancos de dados públicos referentes a casos registrados no país no período, alcançando um total de aproximadamente 17 mil genomas. Também foram analisadas informações referentes a casos no Paraguai.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
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