Os Estados Unidos anunciaram, nesta quinta-feira (1º), novas sanções contra os líderes em conflito no Sudão, embora estejam dispostos a retomar seu papel de mediadores.
Na quarta-feira, depois que o Exército suspendeu a participação nas negociações, 18 civis morreram em um mercado da capital do país, Cartum, alvo de intensos bombardeios, informou um comitê de advogados.
O Exército acusou os paramilitares de violação dos compromissos acordados e anunciou a saída do diálogo mediado por Estados Unidos e Arábia Saudita.
Os países mediadores acusaram os dois lados de violação da trégua, a qual deveria possibilitar a criação de corredores seguros para a entrega de ajuda a uma população que enfrenta cada vez mais dificuldades.
Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira novas sanções econômicas e de concessão de vistos contra os líderes sudaneses por causarem “um terrível derramamento de sangue”, disse o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, em um comunicado.
“Estamos cumprindo a imposição de sanções econômicas, a imposição de restrições de visto contra os atores que estão perpetuando a violência”, acrescentou, em um comunicado.
“Apesar de um acordo de cessar-fogo, a violência sem sentido continuou em todo o país, dificultando a entrega de assistência humanitária e prejudicando aqueles que mais precisam dela. O alcance e a escala do derramamento de sangue (nas cidades de) Cartum e Darfur, em particular, são terríveis”, insistiu Sullivan.
O conselheiro observou que as sanções estão sendo adotadas por meio de uma ordem executiva do presidente Joe Biden de maio.
O Departamento do Tesouro colocou na lista negativa duas importantes empresas de armas das Forças Armadas do Sudão: a Defense Industries System e a Sudan Master Technology. Em paralelo, impôs sanções à mineradora de ouro Al Junaid Multi Activities Co e ao comerciante de armas Tradive General Trading, duas empresas controladas pelo comandante das FAR, Mohamed Hamdan Daglo, e por sua família.
Além disso, o Departamento de Estado impôs restrições de visto a membros das Forças Armadas Sudanesas (FAS), das Forças de Apoio Rápido (FAR) e a líderes do antigo governo de Omar al-Bashir, alegando que eles eram cúmplices em “minar a transição democrática do Sudão”.
Apesar da crise, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou nesta quinta-feira em Oslo que os EUA continuam dispostos a atuar como mediador entre as partes no Sudão, mas que os dois lados “devem deixar claro, com suas ações, que levam a sério o cumprimento do cessar-fogo”.
O conflito no Sudão começou em 15 de abril e envolve o Exército, comandado pelo general Abdel Fatah al Burhan, e as paramilitares FAR, lideradas pelo general Daglo.
A situação é cada vez mais crítica, e a violência não dá trégua no país.
Na quarta-feira, 18 civis morreram, e 106 ficaram feridos, em ataques de artilharia e bombardeios aéreos do Exército contra um mercado ao sul de Cartum, informou um comitê de advogados de defesa dos direitos humanos.
Um “comitê de resistência”, que organiza a ajuda à população, confirmou o número de vítimas e denunciou uma “situação catastrófica”. Também de acordo com o comitê de advogados, as FAR abriram fogo contra civis “que pretendiam impedir o roubo do veículo de um deles”.
“Três civis morreram depois que foram atingidos por tiros e impedidos pelas FAR de seguir para o hospital”, afirmou a organização.
Mais de 1.800 pessoas morreram desde o início dos combates, de acordo com a ONG ACLED, e mais de um milhão de pessoas fugiram de suas residências.
Quase 25 milhões de pessoas, mais da metade da população do Sudão, precisam de ajuda e proteção, afirma a ONU.
Bairros inteiros de Cartum estão sem água corrente, a energia elétrica está disponível por poucas horas a cada semana, e 75% dos hospitais em áreas de combate estão desativados.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mais de 13,6 milhões de crianças precisam de ajuda humanitária, incluindo “620.000 que estão em condição de desnutrição aguda, metade delas sob risco de morte, caso não recebam atendimento a tempo”.
Quase 350.000 pessoas fugiram para os países vizinhos: metade para o Egito; e o restante, para Chade, Sudão do Sul, República Centro-Africana e Etiópia.
O Sudão está à beira da fome, segundo a ONU, e a temporada de chuvas se aproxima, com o risco de epidemias.
Os combates mais violentos acontecem em Darfur, na fronteira com o Chade, onde algumas áreas estão completamente isoladas, sem energia elétrica, ou sistema de telefonia.
Nesta região, os apelos para que os civis peguem em armas provocam o temor de uma “guerra civil total”, afirma o bloco civil afastado do poder pelo golpe militar de 2021, liderado pelos dois generais atualmente em guerra, mas que na época eram aliados.
Desde o início da guerra, o sindicato de médicos denuncia a ocupação de vários hospitais pelos beligerantes.
Os poucos centros médicos ainda abertos nas zonas de combate precisam trabalhar com poucos insumos e geradores que param de funcionar por falta de combustível.
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