Os Estados Unidos solicitaram, oficialmente, nesta segunda-feira (12), sua reintegração à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), da qual se retiraram durante o mandato de Donald Trump, anunciou sua diretora-geral, Audrey Azoulay, que qualificou a decisão como um "forte voto de confiança".
“Desejo informar (…) que os Estados Unidos têm a honra de propor um plano para seu retorno à Unesco”, escreveu secretário de Estado adjunto dos EUA para Gestão e Recursos, Richard Verma, em uma carta enviada a Azoulay, à qual a AFP teve acesso.
“Fico feliz com esse forte voto de confiança”, celebrou em um comunicado a diretora-geral da organização, que, em uma reunião com representantes dos Estados-membros, destacou “um grande dia para a Unesco, para o multilateralismo”.
Azoulay informou as intenções de Washington aos 193 países-membros da organização da ONU, que agora devem decidir por maioria — em uma votação prevista para julho — se aceitam o reingresso.
“O retorno dos Estados Unidos trará um novo impulso necessário”, assegurou a representante do Brasil durante a reunião, na mesma linha da maioria das reações, constatou um jornalista da AFP.
Até mesmo o embaixador da China na Unesco, Yang Jin, anunciou que não se oporá ao retorno dos Estados Unidos e que seu país está pronto “para trabalhar com todos os Estados-membros, incluindo os Estados Unidos”.
A decisão dos Estados Unidos chega em um contexto de rivalidade cada vez mais intensa com a China, que deseja transformar a ordem multilateral internacional criada após a Segunda Guerra Mundial, da qual a Unesco faz parte.
Os Estados Unidos sob a administração de Trump anunciaram, em outubro de 2017, sua saída da organização por seu “persistente viés anti-israelense”. A saída, acompanhada da de Israel, foi efetivada em dezembro de 2018.
A administração de Joe Biden considera, no entanto, que isso permitiu que a China tivesse mais influência nas regras relacionadas à Inteligência Artificial. Em 2021, a Unesco elaborou recomendações sobre ética e IA.
“Acho que devemos retornar à Unesco, não para fazer um favor, mas porque as questões que surgem na Unesco são importantes”, declarou em março o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em uma audiência no Senado.
Além disso, Rússia, China e Irã — países com os quais os Estados Unidos têm relações complexas — fazem parte da organização, que registrou debates tensos desde a invasão russa à Ucrânia, ocorrida em fevereiro de 2022.
Desde 2011 e a admissão da Palestina na Unesco, os Estados Unidos suspenderam seu financiamento a esta organização, embora representassem 22% do orçamento total.
Contraída entre 2011 e 2018, a dívida americana com a organização agora totaliza US$ 619 milhões (3,02 bilhões de reais na cotação de hoje, a R$ 4,88), um valor superior ao orçamento anual estimado da Unesco, de US$ 534 milhões (2,6 bilhões de reais na cotação de hoje, a R$ 4,88).
Em sua carta, Washington informou que solicitou ao Congresso americano a liberação de US$ 150 milhões (732 milhões de reais na cotação de hoje, a R$ 4,88) para o exercício fiscal de 2024, uma contribuição que continuará nos anos seguintes “até a liquidação dos atrasos”.
“O novo dinheiro americano fará muito bem à Unesco”, afirmou um diplomata da organização, lembrando que a suspensão das contribuições causou “grandes dificuldades”.
Ao contrário do que aconteceu com Trump, o diplomata disse que as relações com o governo de Joe Biden são “bastante extraordinárias” e que o presidente e a primeira-dama, Jill Biden, “se envolveram” no retorno.
Os Estados Unidos deixaram a Unesco pela primeira vez em 1984, durante a presidência de Ronald Reagan, alegando inutilidade e excessos orçamentários, voltaram em outubro de 2003 e saíram novamente 15 anos depois.
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