Explosão destrói partes da única ponte entre Crimeia e Rússia

Neste sábado (8), um caminhão-bomba causou uma explosão que destruiu parcialmente a ponte Kerch, única ligação entre a Crimeia e a Rússia. Além de estrategicamente importante, a construção é um símbolo da anexação da península em 2014 em detrimento da Ucrânia. A ponte construída por Vladimir Putin é a maior da Europa, com 19 quilômetros, e principal via de transporte de equipamentos militares das forças russas à Ucrânia.

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João Caminoto

Imagens de câmeras de segurança que circulam on-line mostram uma grande explosão destruindo a ponte, enquanto alguns veículos passam por ela. Conforme registra o vídeo, impacto parece ocorrer na passagem de um caminhão branco.

“Hoje às 06h07 (01h07 de Brasília) na parte rodoviária da ponte da Crimeia (…) ocorreu uma explosão de um veículo-bomba, que incendiou sete tanques ferroviários que estavam indo para a Crimeia”, declarou o Comitê Antiterrorista russo.

O órgão explicou que duas faixas rodoviárias foram danificadas, mas o arco da ponte não.

Vítimas fatais

Três pessoas morreram no incidente, ainda de acordo com dados preliminares da Rússia. As vítimas eram passageiras de um carro que passava perto do caminhão no momento da explosão.

“Os corpos de duas vítimas – um homem e uma mulher – já foram retirados da água”, disse a Comissão de Investigação, anunciando que apurou a identidade do proprietário do caminhão, morador da região de Krasnodar, no sul da Rússia.

Busca por responsáveis

Segundo autoridades russas, um caminhão explodiu e incendiou sete tanques de um trem de carga que transportava combustível.

O presidente do parlamento regional da Crimeia, apoiado pelo Kremlin, acusou imediatamente a Ucrânia, embora o governo russo não tenha atribuído a culpa ao país em guerra.

O exército ucraniano e os serviços especiais (SBU) de Kiev não confirmaram nem negaram seu envolvimento na ação, e o presidente Volodymyr Zelensky apenas ironizou em um vídeo sobre o clima “nublado” no sábado na Crimeia – uma provável alusão à fumaça da explosão.

Aumenta tensão entre Rússia e Ucrânia

Autoridades ucranianas já haviam feito ameaças de ataque à ponte, mas não reivindicaram responsabilidade pelo incidente deste sábado. Muito pelo contrário, na mesma tarde do incidente, o governo ucraniano acusou os próprios russos de estarem ligados à causa do incêndio.

“Convém assinalar que o caminhão que explodiu, segundo todos os indícios, subiu a ponte pelo lado russo. É na Rússia que vocês devem procurar respostas”, indicou o conselheiro da presidência ucraniana Mikhailo Podoliak.

O ato ocorreu um dia depois que do presidente russo, Vladimir Putin, completar 70 anos. Putin ordenou a criação de uma comissão governamental para apurar os fatos e iniciar investigação oficial sobre a causa do incêndio.

Se a Ucrânia estiver por trás do incêndio e da explosão na ponte da Crimeia, o fato de que uma infraestrutura tão crucial e tão longe do front possa ser danificada pelas forças ucranianas representaria um nova desvantagem para o lado russo.

A construção, inaugurada em 2018 por Putin, é peça-chave da logística do país em meio a guerra e é particularmente odiada por ucranianos, por simbolizar a anexação ilegal da Crimeia pelos russos há 8 anos. (BBC)

Ponte odiada por ucranianos

Se a Ucrânia não assumiu a responsabilidade por este atentado, os seus responsáveis multiplicaram os comentários irônicos, chegando os correios ucranianos a anunciar que preparam um selo para celebrar o incidente.

“Tudo que é ilegal deve ser destruído, tudo roubado deve ser devolvido à Ucrânia”, tuitou Mikhailo Podoliak, conselheiro do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Essas reações levaram a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, a ver isso como um sinal da “natureza terrorista” das autoridades ucranianas.

A Rússia sempre sustentou que a ponte é segura apesar dos combates na Ucrânia, mas no passado ameaçou Kiev revidar a Ucrânia e suas forças atacassem essa infraestrutura ou outras na Crimeia.

O deputado russo Oleg Morozov, citado pela agência Ria Novosti, pediu neste sábado uma resposta “adequada”. “Caso contrário, esse tipo de ataque terrorista se multiplicará”, disse.

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João Caminoto

Jornalista com mais de 30 anos de experiência, ocupei diversos cargos - desde repórter, passando por correspondente internacional até diretor de redação - em diversas casas, como o Estadão, Broadcast, Época, BBC, Veja e Folha. Me sinto privilegiado em ter abraçado essa profissão. Apaixonado pela minha família e pelo Corinthians.

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