Fome segue aumentando no mundo, indica relatório da ONU

O número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar grave e precisam de ajuda urgente aumentou pelo quarto ano consecutivo em 2022, de acordo com o Relatório Mundial sobre Crises Alimentares (GRFC, na sigla em inglês), divulgado nesta quarta-feira (3) em Roma.

Publicado por
Agence France-Presse

O relatório anual – produzido pela rede de agências das Nações Unidas, da União Europeia, agências governamentais e não governamentais que trabalham juntas para abordar crises alimentares – revela que a fome se agravou em todo o mundo.

Cerca de 258 milhões de pessoas em 58 países e territórios sofreram insegurança alimentar em 2022 devido a conflitos, mudanças climáticas, efeitos da pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia, segundo o estudo.

“Este é o número mais alto registrado nos sete anos de história do relatório”, destacaram os pesquisadores.

“A violência (…), mas também a crise climática está se tornando um dos principais fatores”, disse à AFP Rein Paulsen, diretor do escritório de emergências e resiliência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

“Estamos preocupados com a situação no Afeganistão, Iêmen, Haiti e no Sahel. Também no Sudão… A lista é longa e a quantidade de pessoas sofrendo de insegurança alimentar é inaceitável, porque conhecemos as soluções para remediá-la”, acrescentou o especialista.

Sete países enfrentaram inanição e indigência, ou seja, níveis catastróficos de fome, incluindo o Haiti, o único país do continente americano que figura pela primeira vez nessa lista.

Fornecer meios para produzir

Para combater o aumento desenfreado da fome, especialistas consideram fundamental “mudar de paradigma” e abordar as causas profundas, fornecendo recursos aos agricultores em vez de apenas ajuda alimentar.

“Se observarmos os fluxos de financiamento durante uma crise alimentar, vemos que a maioria é usada para fornecer ajuda alimentar e apenas 4% apoia a agricultura”, da qual dependem 70% das pessoas afetadas, explicou Paulsen.

Em 30 dos 42 contextos de crise alimentar analisados no relatório, mais de 35 milhões de crianças menores de cinco anos sofriam de inanição ou desnutrição aguda, e 9,2 milhões deles sofriam da forma mais perigosa e quase fatal de desnutrição.

A comunidade internacional pede maior prevenção, antecipação e foco no fenômeno, em vez de apenas responder depois que os efeitos ocorrem.

“Esta crise exige uma mudança fundamental e sistêmica. O relatório deixa claro que é possível avançar. Temos os dados e o conhecimento para construir um mundo mais resiliente, inclusivo e sustentável, onde a fome não tenha lugar”, afirma o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, no relatório.

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