O príncipe Harry, filho mais novo de Charles III, é um homem em pé de guerra com a família, mas que sonha com a reconciliação. No entanto, a iminente publicação de suas memórias, após outras críticas à família real britânica, ameaça frustrar suas esperanças.
Em uma série documental de seis horas, disponível desde dezembro na Netflix, e entrevistas promocionais para seu livro Spare (“O que sobra”, no Brasil) – que será lançado em 10 de janeiro – chama o pai de mentiroso e acusa a família real de “traição” por não ter protegido ele e sua esposa, Meghan Markle, uma atriz afro-americana com quem se casou em maio de 2018.
Também denunciou a guerra entre os serviços de imprensa de diferentes membros da monarquia, que, segundo ele, não hesitam em espalhar informações falsas contra alguns para proteger outros. O Palácio de Buckingham não reagiu a essas acusações, que passam por cima do lema da família: ‘nunca reclame, nunca explique’.
Por muito tempo, a opinião pública britânica perdoou todos os comportamentos do rebelde príncipe ruivo. Nascido em 15 de setembro de 1984, dois anos após seu irmão, Harry era então o terceiro na ordem de sucessão ao trono. Ele agora é o quinto, atrás dos filhos de William.
Em 1997, a imagem do príncipe de 12 anos andando de cabeça baixa atrás do caixão de sua mãe comoveu o mundo.
Seguiram-se anos difíceis: aos 17 anos fumava maconha, bebia e festejava. Em 2004, brigou com um fotógrafo do lado de fora de uma boate. No ano seguinte, protagonizou um escândalo ao se fantasiar de nazista em uma festa.
Depois de se formar no prestigioso Eton College, aparentemente com uma pequena ajuda, passou um ano sabático na Austrália e na África, cuidando de órfãos do Lesoto, onde criou uma ONG em memória de sua mãe.
Em 2005, Harry entrou na Real Academia Militar de Sandhurst, um respeitado centro de treinamento para oficiais do exército. Sua carreira militar durou 10 anos e foi marcada por duas missões no Afeganistão, durante 10 semanas em 2007-2008, e depois como piloto de helicópteros de setembro de 2012 a janeiro de 2013. Ele renunciou em 2015.
A morte de sua mãe o marcou para sempre: “Bloqueei todas as minhas emoções durante 20 anos”, disse ele ao jornal Daily Telegraph, em 2017. Mas ele buscou ajuda. Em 2021, Harry contou que havia feito quatro anos de terapia, em uma série sobre saúde mental co-produzida com a apresentadora americana Oprah Winfrey. O período coincide com seu noivado, em 2017, com Meghan Markle e seu casamento no ano seguinte. Em 2019, o casal teve seu primeiro filho, Archie, e em 2021, nasceu sua filha Lilibet.
Seu caso de amor com Meghan parecia destinado a soprar um novo vento de diversidade na monarquia, mas logo surgiram tensões que levaram o casal a se mudar para a Califórnia em 2020. Desde então, a comunicação entre Harry, seu pai e seu irmão foi basicamente cortada.
“Não demonstraram nenhum desejo de reconciliação. Eu gostaria de ter meu pai de volta. Eu gostaria de ter meu irmão de volta”, declarou Harry em trechos de entrevista promocional de seu livro.
Nos Estados Unidos, ele e Meghan criaram a “Archewell”, uma produtora e fundação filantrópica que defende a “compaixão”. Ganharam milhões de dólares por sua série documental e afirmam ter mais três livros em andamento.
Embora sinta falta de suas “estranhas reuniões familiares” e de seu país, Harry diz ter a intenção de voltar a trabalhar para a família real britânica.
(Com AFP)
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