Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 3,7 bilhões de pessoas em todo o mundo que já tiveram manifestações do vírus Herpes ao longo da vida. O número equivale a 67% da população mundial abaixo de 50 anos, segundo dados de 2016, quando a organização fez a última estimativa sobre a infecção provocada pelo herpes oral ou genital em todo o planeta. Médicos e profissionais de Saúde têm notado, no entanto, um fenômeno interessante: o aumento na incidência de lesões de herpes tipo 1 nos órgãos genitais, ou pelo tipo 2 na boca.
O que é herpes? É uma infecção causada pelo vírus Herpes simplex, transmitido pelo contato direto das lesões com a pele ou mucosa de uma pessoa não infectada. Existem dois tipos de herpes: o tipo 1 é causado pelo vírus HSV-1 e provoca lesões principalmente na boca ou no nariz – por isso, herpes oral. Em alguns países, como nos EUA, essa forma é chamada “fever blister” (bolhas de febre na tradução livre) para diferenciá-lo da Infecção Sexualmente Transmissível (IST). Já o tipo 2 é associado ao vírus HSV-2 e afeta, majoritariamente, os órgãos genitais. Apesar disso, as duas doenças podem causar feridas também em outras partes do corpo.
É importante deixar claro que as primeiras infecções podem aparecer na infância, e bilhões de pessoas carregam o vírus no organismo sem nunca apresentar nenhum sintoma dele. No entanto as práticas atuais para prevenção e tratamento da doença, nos herpes simples tipo 1 e 2, são as mesmas de décadas atrás.
E um artigo publicado em 2017 por pesquisadores brasileiros destacaram que o vírus do herpes é, apesar da prevalência, bastante subestimado pela comunidade científica. Para a pesquisadora Daniele Rechenchoski, uma das autoras do estudo, a palavra “subestimado” é adequada porque o vírus causa, na maioria dos casos, sintomas leves a moderados, mas também pode provocar complicações.
“É um vírus com alta infecciosidade e que acomete milhares de pessoas ao redor do mundo. Além disso, em pacientes neonatos e imunocomprometidos, o vírus é capaz de causar sintomas graves, podendo ser até letal”, destaca Rechenchoski, doutora em Microbiologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
A maioria dos estudos atuais busca entender por que as manifestações geralmente leves da doença podem variar tanto de pessoa para pessoa. “O que tem sido mais abordado é o que causa o aparecimento das lesões, ou seja, investigar o que está baixando a imunidade das pessoas que têm manifestações. Eu vejo o herpes muito mais como um sinal de um corpo que está precisando de ajuda”, explica Fiorelli.
Um estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), publicado em março do ano passado, analisou a relação entre a recorrência do herpes simples e sintomas de estresse ou ansiedade durante a pandemia de covid-19.
A partir do acompanhamento de 347 estudantes de odontologia que já haviam apresentado episódios de herpes oral antes da pandemia, o estudo estabeleceu uma correlação entre ansiedade no nível grave, ou estresse nos níveis moderado e grave, e manifestações mais frequentes da doença.
“Foi até curioso ver nossos resultados porque poucas pessoas relataram ter recorrência de lesões de herpes durante o período da pandemia. Mas, todos os que tiveram [casos recorrentes] relataram um grau de estresse de moderado a alto, então a gente conseguiu fazer essa associação”, explica a odontologista Fernanda Mombrini Pigatti, uma das autoras do estudo.
Nos últimos anos, tem aumentado a ocorrência de lesões provocadas pelo herpes tipo 1 nos órgãos genitais, ou pelo tipo 2 na boca, segundo ginecologistas.
“Devido ao alto grau de prática de sexo oral, tem se tornado mais comum ver o tipo de herpes que geralmente afeta a boca aparecendo nos genitais também”, explica Fiorelli, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Além do aparecimento das lesões (agrupamentos de bolhas), os sintomas do herpes podem incluir:
⬆️🆘 Esses últimos sintomas são mais comuns na primeira manifestação da doença, que costuma ser mais intensa.
A ginecologista Lilian Fiorelli, no entanto, destaca que a primeira lesão não ocorre, necessariamente, após o primeiro contato com o vírus.
“No geral, a primeira manifestação aparece em um contexto de baixa imunidade, que pode ser logo após o primeiro contato, mas pode ser bem depois também. Esta primeira infecção costuma ser mais grave porque o organismo não gerou anticorpos para combater aquele vírus, e muitas vezes a reação é mais exacerbada, o que pode causar febre”, explica.
Não existe vacina ou cura para o herpes. Fatores estressantes para a doença, como exposição solar, variações hormonais ou estresse, favorecem o aparecimento das lesões.
O Ministério da Saúde reconhece que a doença é de “difícil controle em virtude de sua elevada transmissibilidade”. “Hoje em dia a gente não fala mais tanto em prevenção, mas, sim, em educação: explicar como a doença se manifesta, como ocorre o contágio, como deve ser o tratamento. Isto porque é muito difícil você impedir a transmissão em si. A prevalência já é muito grande”, explica Fiorelli.
Atualmente, o tratamento é feito com medicamentos antivirais que ajudam a desacelerar a progressão das feridas, mas pacientes dizem que são pouco eficazes e demoram para mostrar efeitos.
“Até [a ferida] parar de estourar e começar a secar, mesmo depois de tomar o remédio, demora uns dias. Seria bom se tivéssemos tratamentos mais rápidos, que agissem logo que você toma”, opina Feola.
O ideal é começar a tomar a medicação antiviral antes mesmo do aparecimento das lesões, quando ocorre uma sensação de coceira ou formigamento na região onde elas costumam aparecer. Isto porque o remédio não é capaz de interromper o ciclo das bolhas que já estão ativas, mas apenas evitar a propagação delas. Alguns odontologistas também indicam o uso de laserterapia para o tratamento de feridas na região da boca: ajuda a diminuir a duração da lesão, e na cicatrização.
Como o contágio ocorre principalmente por meio de feridas ativas, é importante evitar contato íntimo durante a fase aguda da doença, ou seja, enquanto as lesões estão visíveis – isso inclui beijos e relações sexuais.
A ginecologista Lilian Fiorelli recomenda ainda que os pacientes evitem tocar as feridas para que elas não se espalhem para outros locais do corpo.
No caso do herpes genital, nem mesmo o uso de camisinha é suficiente para prevenir totalmente a transmissão, já que os preservativos masculinos e femininos protegem apenas as áreas de pele que eles encobrem.
(Fonte: Agência Einstein)
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