O país, que se descreve como “nação start-up”, ocupou a posição 14 no ranking de Estados pelo PIB per capita de 2022, à frente das quatro maiores economias europeias (Alemanha, Reino Unido, França e Itália), de acordo com as estatísticas mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI).
PUBLICIDADE
“Mas existe a nação start-up e a nação da ‘soup kitchen'” (restaurante popular, comunitário), afirma Gilles Darmon, presidente da Latet, a principal ONG que luta contra a pobreza e oferece ajuda alimentar em Israel.
“De um lado fica o centro do país, ao redor de Tel Aviv e da alta tecnologia, onde, em termos de prosperidade, devemos estar entre as cidades mais ricas do mundo (…) Do outro, mais de 312.000 famílias (de uma população de quase 9,7 milhões de pessoas) em situação de insegurança alimentar severa”, acrescenta.
Israel, fundado em 14 de maio de 1948, pode destacar desempenhos macroeconômicos invejáveis.
PUBLICIDADE
O crescimento econômico foi de 6,5% em 2022, abaixo dos 8,6% de 2021, mas ainda muito acima da média (2,8%) dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE). A inflação está relativamente sob controle e o déficit orçamentário está controlado.
A cibersegurança virou um dos motores da economia, principalmente com o grupo Check Point, um dos líderes mundiais no setor.
“Espírito de comando”
Israel também está na vanguarda da inovação em biotecnologia e agricultura. A empresa Netafim, especializada em tecnologias de irrigação no deserto de Neguev desde a década de 1960, se expandiu internacionalmente.
PUBLICIDADE
A indústria armamentista, com o trio Elbit, Israel Aerospace Industries (IAI) e Rafael Advanced Defense Systems, continua sendo um símbolo da economia israelense, com contratos lucrativos no exterior.
A experiência israelense também é encontrada em várias multinacionais de alta tecnologia, destaca Daniel Rouach, presidente da Câmara de Comércio França-Israel.
“Existe ‘know-how’ israelense nos componentes encontrados em grandes multinacionais como Intel ou Google”, disse.
PUBLICIDADE
O Waze, aplicativo de assistência para motoristas, era israelense antes de ser comprado pelo Google.
De acordo com Rouach, os sucessos estão vinculados a uma mentalidade empresarial israelense: “um espírito de comando que consiste em utilizar ao máximo os orçamentos designados em um período de tempo mínimo, às vezes assumindo riscos enormes, tendo como único parâmetro o objetivo a atingir”.
Mas à margem do sucesso, que é representado por belas residências no centro do país, a realidade é menos brilhante.
PUBLICIDADE
Em Shimshon, bairro da zona sul da cidade costeira de Ashkelon, é possível observar diversos prédios em péssimas condições.
Construídos às pressas no final da década de 1950 para receber o grande fluxo de imigração, principalmente do norte da África, os imóveis agora são habitados em grande parte por imigrantes da Etiópia e Rússia, sem qualquer tipo de reforma.
Comida ou remédio
As fachadas amarelas estão dominadas por roupas penduradas em pequenas varandas.
“Estamos todos com problemas. Todo o bairro! Mal sobrevivemos com os benefícios da ajuda pública”, disse a aposentada Esther Benhamou, de 73 anos, enquanto subia com dificuldades as escadas que levam a seu apartamento.
“Eu tenho que escolher: comer ou comprar meus remédios”, acrescentou, já dentro da sala de seu apartamento, praticamente sem móveis.
Mais de 27% da população israelense vive na pobreza, de acordo com dados do fim de 2022 da ONG Latet.
Israel tem o terceiro maior índice de pobreza entre os 38 países da OCDE, atrás da Costa Rica e da Bulgária.
“Em pouco mais de 30 anos, nós passamos de uma das sociedades mais igualitários do mundo (…) a uma sociedade altamente desigual e individualista”, afirma Darmon. “O Estado parou de cumprir seu papel de mitigar os efeitos do mercado e de redistribuição da riqueza”.
Muitas organizações de caridade trabalham para atender às necessidades dos mais pobres. Em Kyriat Malakhi, uma pequena cidade no sul de Israel, Nikol Jibril, 72 anos, cozinha e distribui refeições para os mais pobres há 3 anos.
“Assim que você ajuda uma família a seguir adiante, outra chega. Nunca para, sempre enviam mais pessoas”, ela disse. “Somos uma dezena de voluntários cozinhando todo o dia e precisamos de quantidades maiores (…) A situação só piora”.