Não foi piada, brincadeira ou comentário ‘maldoso’. Foi racismo a fala do ex-piloto brasileiro Nelson Piquet, em entrevista sobre um acidente, no ano passado, entre o heptacampeão Lewis Hamilton e o atual campeão da F1, Max Verstappen, na última edição do GP da Inglaterra. A entrevista foi em 2021, mas o vídeo ganhou as redes sociais no último fim de semana e virou um caso exemplar de preconceito estrutural em falas tidas como ‘’normais’’.
PUBLICIDADE
‘’O neguinho meteu o carro e deixou. O Senna não fez isso. (…) O neguinho deixou o carro. É porque você não conhece a curva; é uma curva muito de alta, não tem jeito de passar dois carros e não tem jeito de passar do lado. Ele fez de sacanagem’’, disse Piquet, referindo-se a Hamilton. A resposta do britânico veio veloz e em claro português: ‘’Vamos focar em mudar a mentalidade’’.
Em post continuado no Twitter, o piloto refletiu sobre as mudanças esperadas dentro e fora dos autódromos. ‘’Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e alvo de minha vida toda’’.
O episódio mobilizou a alta cúpula da Fórmula 1, onde mais vozes se uniram ao britânico. Em comunicados oficiais, FIA e Mercedes, além de equipes como Ferrari e McLaren, manifestaram apoio.
PUBLICIDADE
Um dos símbolos atuais de resistência negra, Lewis Hamilton usa de sua imagem para pautar a questão racial. Em 2020, fez alusão aos ‘panteras negras’, com um capacete roxo e de alto design. No primeiro ano da morte de George Floyd por policiais americanos, usou uma camisa que trazia seu nome estampado; protesto que também fez quando, no Brasil, um homem negro foi morto na porta de um supermercado.
Ao assumir voz ativa na luta antirracista, Hamilton chegou a ser alvo de retalizações dentro da F1, incomodando a organização do evento, que cogitou abrir investigação sobre o teor dos atos – o regulamento da competição proíbe manifestações políticas. À época, uma punição chegou a ser estudada para Lewis.
Não custa lembrar: no Brasil, ocorre crime de racismo quando há ofensa à dignidade de alguém, com base em elementos referentes à sua raça, cor, etnia, religião, idade ou deficiência, com pena de um a três anos de reclusão.
PUBLICIDADE
Curto Curadoria
‘’Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista’’, resumiu a filósofa americana Angela Davis. Mas, como entender de maneira mais detalhada o que nos fez chegar até aqui? Em UOL Ecoa, reportagem traça um panorama do tema.
A aula não para. O filósofo do direito e presidente do Instituto Luiz Gama Silvio Almeida, autor de “Sartre: direito e política” destrincha didaticamente o conceito de racismo estrutural para a TV Boitempo.
O papo pode ficar ainda melhor e firme se você parar pra ouvir uma conversa sincera e honesta sobre representatividade, negritude, luta e vida, numa troca entre Mano Brown e a pensadora Sueli Carneiro no podcast #ManoAMano
PUBLICIDADE