Milhares de pessoas se manifestaram, nesta sexta-feira (21), no Iraque e Irã para denunciar a profanação do Alcorão na Suécia, que provocou um incêndio na embaixada do país escandinavo em Bagdá e uma grave crise diplomática.
Convocadas pelo influente líder religioso iraquiano, Moqtada Sadr, centenas de pessoas protestaram nesta sexta-feira em Bagdá após a oração.
O Ministério das Relações Exteriores da Suécia anunciou que repatriou temporariamente sua embaixada em Bagdá para Estocolmo por razões de segurança. “O pessoal destacado chegou à Suécia em um voo regular”, disse uma porta-voz.
Estocolmo foi palco de duas recentes profanações do Alcorão, a primeira no final de junho e a última nesta quinta-feira, ambas protagonizadas por um refugiado iraquiano, Salwan Momika, de 37 anos.
Na quinta-feira, ele pisoteou e rasgou uma cópia do livro sagrado para os muçulmanos, embora sem incendiá-la, como havia anunciado que faria.
A polícia sueca autorizou o ato em nome da liberdade de reunião, mas alegou que isso não significa que aprove os atos do refugiado iraquiano.
Em junho, Momika queimou várias páginas do livro em frente a uma mesquita na capital sueca.
Na capital iraquiana, sob uma onda de guarda-sóis, para se proteger do calor, os manifestantes se reuniram em uma avenida no bairro de Madinet Sadr, gritando “sim, sim ao Islã”, “sim, sim ao Alcorão” e “sim, sim ao Iraque”, observou um correspondente da AFP.
Os manifestantes também queimaram bandeiras do arco-íris. O líder xiita Moqtada Sadr viu nisso uma forma de irritar os ocidentais e de denunciar a “dupla moral” que consiste, segundo ele, em defender a comunidade LGBTQIA+ e ao mesmo tempo autorizar, como foi o caso na Suécia, a profanação do Alcorão.
“Com esta manifestação queremos fazer a nossa voz chegar à ONU, para obter a sanção por toda profanação dos livros sagrados, do Islã, do Cristianismo e do Judaísmo”, disse Amer Shemal, funcionário municipal de Madinet Sadr.
Em Teerã, centenas de manifestantes saíram às ruas carregando bandeiras iranianas e cópias do Alcorão, cantando “Abaixo os Estados Unidos, o Reino Unido, Israel e Suécia”. Alguns também incendiaram bandeiras suecas.
Também houve protestos no Líbano, onde centenas de pessoas se reuniram em frente a várias mesquitas em um subúrbio ao sul de Beirute, reduto do Hezbollah, o grupo político armado xiita.
O exército reforçou as medidas de segurança nos arredores da embaixada sueca.
A diplomacia britânica denunciou em nota “a queima de livros e a profanação do Alcorão em Estocolmo” e descreveu atos “profundamente insultantes (…) e totalmente inadequados”.
Arábia Saudita e Irã, dois pesos pesados na região, convocaram os representantes das legações diplomáticas suecas, assim como a Jordânia.
“Repetir essas ações usando o pretexto da liberdade de expressão é inaceitável e injustificável”, disse o chefe da diplomacia iraniana, Hosein Amir-Abdollahian, em conversa por telefone com seu homólogo sueco.
As profanações do Alcorão causaram uma grave crise diplomática entre a Suécia e o Iraque.
Bagdá anunciou na quinta-feira a suspensão da licença da gigante sueca Ericsson, embora um assessor do primeiro-ministro, Farhad Alaaldin, tenha afirmado nesta sexta que “nenhuma empresa foi suspensa, nem mesmo a Ericsson”.
É a segunda vez que os apoiadores de Moqtada Sadr invadem a embaixada sueca em Bagdá, que foi incendiada na madrugada de quinta-feira. No mesmo dia, o governo iraquiano decretou a expulsão da embaixadora sueca.
“A expulsão da embaixadora é pouco, queremos mais”, disse o manifestante Sabbah al Tai, de 45 anos, que disse ter participado do último ataque à legação diplomática sueca, nesta sexta-feira em Madinet Sadr.
Com este protesto, foi mais uma vez revelada a capacidade de mobilização de Moqtada Sadr, cujos apoiadores invadiram o Parlamento em Bagdá no verão de 2022, em um contexto de tensão pela nomeação de um novo primeiro-ministro.
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