Seis em cada dez meninas (62%) de escolas públicas não conhecem nenhuma pessoa que atue profissionalmente em áreas STEM (sigla em inglês para indicar ciências, tecnologia, engenharia e matemática). Entre estudantes do gênero masculino, a porcentagem é menor, de 42%. Os resultados são um norte para se compreender o impacto da falta de representatividade feminina.
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Meninos e meninas respondem
Alguém conhece uma mulher que trabalhe com STEAM?
- 57,1% dizem que não.
Entre os que têm, em seu meio, alguém com esse perfil, o mais comum são mulheres matemáticas (18,7%). Em seguida, são mencionadas mulheres físicas (6%), químicas (5,9%) e engenheiras (4%).
Matemática é a matéria mais difícil?
- 44% das meninas consideram matemática a matéria mais difícil
- apenas 28% dos meninos.
Para as meninas, matemática é a disciplina mais importante. Na sequência, vêm educação financeira, defesa pessoal/primeiros socorros, português e ciências.
📍Em Belém
Por lá, as estudantes disseram ter vontade de ter aulas de educação sexual, como forma de prevenir a gravidez na adolescência e também de se proteger contra a violência sexual, em suas diferentes formas.
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Conforme explica a fundadora da Força Meninas e idealizadora do estudo, Déborah De Mari, o que se observou, ao longo do levantamento, foi que as estudantes com mais aptidão para as matérias de exatas têm, de modo geral, um bom boletim escolar e gostam da escola.
Ela também aponta que há meninas que valorizam mais a educação, por vê-la como um modo de desenvolver seus potenciais, e outras que, “por uma série de questões”, incluindo o fato de não terem assimilado conteúdos durante a pandemia e o desencorajamento familiar, já não têm tanto interesse em estudar.
“As primeiras matérias afetadas por esse desinteresse eram essas com que têm menor afinidade, em que veem menor representatividade feminina, menos futuro. A primeira delas é a própria matemática, que tem muito esse emblema de dificuldade e de ser um território pouco feminino”, afirma Déborah, acrescentando que, para muitas alunas, há “desconexão” entre o que aprendem e aquilo com que se deparam na realidade.
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Outro fator que pesa contra as meninas é o estereótipo de gênero, no sentido de que imagens associadas às mulheres ainda influenciam nas escolhas das estudantes. Segundo Déborah, muitas estudantes optam por seguir caminhos que, em tese, devem lhes conferir mais popularidade e menos rejeição de seu círculo interpessoal, algo importante, sobretudo, na fase da adolescência.
“Acho que existe um temor, de alguma forma, de confirmar a expectativa de outras pessoas, de que isso não vai dar em nada. É como se elas estivessem esperando algo para si que fosse impossível de alcançar ou que não é para elas. Um temor de insistir nisso e, depois, confirmar a descrença. Outra coisa que sinto é o seguinte: mesmo meninas que têm interesse, quando mais novas, com uns 13 anos, se desencorajam com o tempo, para continuar se encaixando nos padrões vigentes. Como acham que gostar daquilo não traz nenhum atributo no que diz respeito a ser benquista, popular entre amigos, muitas meninas que têm talento desistem no meio do caminho”, ressalta Déborah.
Para Déborah, atingir um ambiente mais igualitário depende de “compromisso em todas as esferas”, com o envolvimento de pais e educadores. “A desigualdade de gênero, que já é gravíssima, vai se aprofundar mais se a gente não agir rápido e não agir no presente”, conclui.
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A pesquisa foi realizada via questionário com 1.232 meninos e meninas de 10 a 17 anos de idade, com amostragem de 37.400 alunos de ensino fundamental de escolas públicas de quatro regiões do país. Além disso, foram realizadas ainda entrevistas com 230 meninas de 10 a 18 anos, visitas a 17 escolas -, sendo dez públicas e sete particulares -, e entrevistas em profundidade com cinco meninas de alto desempenho escolar das cinco regiões do Brasil, além de 24 rodas de conversa. A apuração durou um ano e contou com a parceria das consultorias de pesquisa criativa 65|10 e Studio Ideias.
O relatório “Meninas curiosas, mulheres de futuro. Meninas brasileiras e a inserção em STEM: um abismo no presente e horizonte para o futuro” pode ser lido, na íntegra
(Com Agência Brasil)