No 75º aniversário dos Capacetes Azuis, chefe de operações lamenta divisões na ONU

No 75º aniversário dos Capacetes Azuis, o chefe das operações de paz da ONU lamentou as divisões dentro do grupo das grandes potências do Conselho de Segurança, que dificultam a execução dos acordos de paz e os processos políticos em um mundo cada vez mais polarizado.

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Agence France-Presse

Em entrevista à AFP em Nova York, Jean-Pierre Lacroix, subsecretário-geral das Nações Unidas desde 2017, preferiu ver o lado positivo e destacou a “longa lista” de países, principalmente na África, que se beneficiaram do “milhão de homens e mulheres que serviram sob a bandeira da ONU” desde 1948.

Desde 2002, é comemorado em 29 de maio o “Dia Internacional dos Capacetes Azuis das Nações Unidas”, pois nesta mesma data, em 1948, o Conselho de Segurança estabeleceu a primeira operação de manutenção da paz, com a criação do órgão das Nações Unidas encarregado da supervisão da trégua no Oriente Médio (Onust).

Capacetes azuis mortos

Neste ano, devido ao fim de semana prolongado do Memorial Day, a ONU antecipou para esta quinta-feira (25) a celebração do 75º aniversário em homenagem aos “3.800 capacetes azuis que perderam a vida a serviço da paz” desde 1948.

Atualmente, lamentou Lacroix, “sofremos com a divisão entre nossos Estados-membros”, quase 80 anos depois da criação das Nações Unidas após a Segunda Guerra Mundial, o que paralisa há mais de uma década o Conselho de Segurança, devido aos antagonismos entre Estados Unidos, Rússia e China.

Embora o mais alto órgão executivo da ONU renove regularmente os mandatos das missões de paz, o funcionário pediu “mais união aos Estados-membros, para que possam atuar ativa e conjuntamente na implementação de acordos de paz e processos políticos”. A ONU tem “mais dificuldade para alcançar os objetivos de manutenção da paz: a mobilização, o apoio à implementação de um acordo de paz e a retirada gradual”, lamentou o ex-embaixador da França, 63.

As Nações Unidas tem em andamento no mundo 12 operações de paz, entre elas as do Líbano, Mali, Chipre e Paquistão. A “lista de países que recuperaram a estabilidade é longa”, assinalou Lacroix, após citar os casos de Costa do Marfim, Libéria, Serra Leoa, Angola e Camboja, nas décadas de 1990 e 2000. “A comunidade internacional estava muito mais unida e os processos políticos nesses países foram colocados em prática com o apoio ativo e unido dos nossos Estados-membros”, destacou.

Ameaçada?

Caras e cada vez mais criticadas, principalmente na África, as operações de manutenção da paz podem ser muito perigosas militar e diplomaticamente, como a Missão de Estabilização do Mali (Minusma). Os militares franceses da operação Barkhane deixaram em 2022 aquele país do Sahel devido à pressão de uma junta militar hostil, que preferiu os mercenários russos do grupo Wagner.

A Alemanha, maior contribuidor da Minusma, com mil capacetes azuis, também confirmou a retirada de suas tropas, dentro de um ano. Desde a sua criação, em 2013, 185 militares dos 12.000 destacados perderam a vida em atos hostis nesta missão da ONU.

Lacroix não acredita que a operação Minusma esteja ameaçada, dadas as “relações regulares e transparentes com as autoridades do Mali” e as “manifestações de apoio à Minusma em regiões” daquele país.

Para o chefe das operações de paz da ONU, “a grande maioria dos Estados” vizinhos e os 15 membros do Conselho de Segurança “consideram que Minusma segue desempenhando um papel importante, tanto para o processo político de transição quanto para a proteção de civis”.

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