Yao, proprietário de um restaurante em Pequim, enfrenta um dilema face ao iminente despejo de água de Fukushima no mar do Japão: continuar servindo atum japonês com o risco de perder clientes, ou encontrar novos fornecedores.
Os amantes da comida japonesa estão preocupados com a decisão de Tóquio de despejar a água acumulada na usina nuclear danificada de Fukushima no Oceano Pacífico a partir desta quinta-feira (24).
Doze anos após a pior catástrofe nuclear desde o acidente de Chernobyl, o plano do governo japonês recebeu sinal verde da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA na sigla em inglês), mas Pequim se opôs e desde julho proibiu a importação de produtos alimentícios de 10 departamentos japoneses, incluindo Fukushima.
Hong Kong fez o mesmo nesta terça-feira (22), e agora restaurantes de comida japonesa estão “sentindo os efeitos”, conta Yao, cujos clientes perguntam cada vez mais sobre a origem do atum de seu estabelecimento.
Em Hong Kong, Jasy Choi, que vende pratos japoneses para viagem, explica que a proibição imposta pelas autoridades locais irá afetar o seu negócio.
“Cerca de 80% dos frutos do mar que usamos vêm do Japão”, explica o chef de 36 anos.
A China continental e Hong Kong, com 500 bilhões de ienes (cerca de US$ 3,44 bilhões ou R$ 17 bilhões na cotação atual), são os maiores importadores mundiais de produtos alimentícios japoneses, de acordo com o Ministério da Agricultura do Japão.
Liu Dan, uma consumidora desta culinária está preocupada com a nova medida.
“A partir de 24 de agosto, direi aos meus filhos e ao meu marido que evitem esses produtos”, explica ela, que não se convence com os vários relatórios, incluindo o da AIEA, segundo os quais a água lançada não representa um risco para a saúde.
Embora o líquido em questão tenha sido tratado para eliminar a maior parte dos resíduos radioativos, o trítio, um radionuclídeo perigoso para os seres humanos em concentrações elevadas, não conseguiu ser suprimido.
O especialista nuclear Tony Hooker, da Universidade de Adelaide (Austrália), explicou que este elemento é liberado pelas usinas há “décadas” sem efeitos nocivos ao meio ambiente ou à saúde. Sobretudo porque o nível presente nas águas de Fukushima está bem abaixo do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde, argumenta.
No entanto, a opinião entre proprietários de restaurantes está dividida.
Fang Changsheng, dono de um estabelecimento em um bairro de Pequim conhecido pela culinária japonesa, decidiu apostar em produtos do Chile, Espanha ou Rússia.
Já Jacky Wong, que possui um pequeno restaurante em Hong Kong, acredita que “sempre haverá pessoas para quem (o despejo da água de Fukushima) não é um problema”, ressaltando que “alguns frutos do mar do Japão são difíceis de substituir”.
Opinião corroborada por outros colegas do setor como Jasy Choi.
“Embora existam produtos substitutos da China, Coreia do Sul ou Austrália, não tenho a certeza se os quero oferecer aos meus clientes”, afirma ele.
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