A crise em Israel se intensificou nesta terça-feira (25) com convocações de protestos e greves, após a votação parlamentar de uma polêmica reforma judicial que dividiu o país e suscitou críticas de aliados no exterior.
O Parlamento israelense aprovou, na segunda-feira, uma cláusula-chave da reforma promovida pelo governo de direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que já provocou recursos judiciais e confrontos nas ruas.
A votação se concentrou na chamada cláusula de “razoabilidade”, que limitará a capacidade dos juízes de anular decisões do governo.
Os críticos temem que a reforma arruíne a democracia ao remover os freios e contrapesos do Executivo.
Em discurso transmitido pela televisão, Netanyahu defendeu a aprovação dessa cláusula como “uma etapa democrática necessária”.
Como parte do movimento de protesto, que já dura vários meses, o conselho dos médicos convocou uma greve nesta terça-feira no serviço público, exceto em casos de emergência.
“A mão estendida para o diálogo ficou suspensa no ar”, disse o presidente da Associação Médica de Israel, Zion Hagay, em um comunicado anunciando a paralisação.
O presidente do sindicato Histadrut, Arnon Bar David, ameaçou “uma greve geral, se necessário”, contra as reformas.
A Ordem dos Advogados de Israel foi um dos vários grupos que solicitaram à Suprema Corte a anulação da nova legislação.
“Um dia de luto para a democracia israelense”, diziam as capas de três dos principais jornais do país na terça-feira. Os manifestantes permaneceram nas ruas até tarde da noite após a votação no Knesset (Parlamento).
O estudante Josh Hakim disse estar “muito triste com o que está acontecendo com o país”. “Veja o que está acontecendo nas ruas, todos estão muito indignados”, disse à AFP perto do Parlamento em Jerusalém.
Cerca de 58 pessoas foram detidas nas manifestações, segundo a polícia, várias delas em Tel Aviv, foco de um dos maiores movimentos de protesto da história do país.
Os policiais usaram canhões de água para dispersar os manifestantes em uma das principais ruas de Tel Aviv, onde a multidão agitava bandeiras israelenses.
Netanyahu não conseguiu acalmar os opositores com seu discurso na segunda-feira, no qual disse que queria negociar com a oposição sobre o projeto de reforma e “iniciar um diálogo”.
O primeiro-ministro estava presente no dia da votação, mas parecia abatido, um dia após a cirurgia para a colocação de um marca-passo.
Na segunda-feira, a oposição deixou a câmara para boicotar a votação da cláusula, que foi aprovada com 64 votos de 120 cadeiras.
“Não há primeiro-ministro em Israel. Netanyahu se tornou uma marionete de extremistas messiânicos”, disse o líder da oposição Yair Lapid, referindo-se aos aliados de extrema direita e ultraortodoxos do primeiro-ministro.
Os opositores acusam Netanyahu, que está sendo julgado por corrupção, de querer usar essa reforma para anular possíveis julgamentos contra ele, o que ele nega.
A instabilidade política disparou o alarme entre os aliados de Israel.
Os Estados Unidos classificaram a votação como “infeliz” e o governo alemão disse estar acompanhando com “grande preocupação” as tensões que abalam a sociedade israelense.
Os protestos atraíram o apoio de todos os estratos políticos e sociais, tanto da esquerda quanto da direita, grupos seculares e religiosos, ativistas pela paz e reservistas militares, além de profissionais do setor de tecnologia, fundamental para a economia do país.
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