Os empresários brasileiros mantêm amplo apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições de outubro, embora sua gestão tenha gerado reservas, ao mesmo tempo em que o setor vê com receio uma volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em busca da reeleição, o presidente concentra 62% das intenções de voto do empresariado, longe dos 24% de seu adversário, segundo pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada na semana passada.
Essa preferência contradiz a do eleitorado em geral, no qual Lula soma 47%, com vantagem de 14 pontos percentuais sobre Bolsonaro, de acordo com a última pesquisa Datafolha, publicada nesta quinta-feira (22).
Os empresários valorizam especialmente o avanço da agenda neoliberal do governo Bolsonaro, que prometeu em 2018 reduzir o tamanho do Estado, afirmam analistas.
Liderada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, essa política se reflete em privatizações, como a da Eletrobras, e várias concessões, como a concedida na administração de saneamento à empresa Águas do Rio.
Os empresários apreciaram também a reforma do sistema de pensões e o impulso de uma reforma tributária, pendente no Congresso.
“Prefiro uma agenda liberal e não aquela de capitalismo de Estado. O que gera empregos não é o Estado, mas a iniciativa privada, que impulsiona a economia”, afirma, sem revelar seu voto, João Cox, membro de conselhos diretores de várias empresas, como a Embraer.
Os pequenos empresários, por sua vez, valorizam o fato de Bolsonaro se opor aos fechamentos durante a pandemia de covid-19, que matou mais de 685.000 pessoas no país, segundo Daniela Campello, especialista em ciência política da Fundação Getúlio Vargas.
A recuperação econômica pós-pandemia também pesa a favor do presidente.
O Brasil cresceu 4,6% em 2021, após registrar queda em 2020, e o mercado projeta uma expansão de 2,65% para este ano.
As preocupações apontam para “um maior intervencionismo do Estado na economia e o compromisso de redistribuição a favor dos trabalhadores”, incluindo promessas de rever a reforma que flexibilizou alguns direitos trabalhistas em 2017, analisa Campello.
Por setores, o agronegócio continua sendo o grande reduto bolsonarista. Este apoiou Bolsonaro até 7 de Setembro de 2021, quando uma coluna de tratores participou da tradicional parada militar em Brasília.
De fato, o principal doador privado da campanha de Bolsonaro (um milhão de reais) é o produtor de grãos Oscar Cervi.
O setor, que representa quase 28% do PIB, destaca avanços em infraestrutura logística e um bom desempenho apesar da pandemia e da guerra da Rússia na Ucrânia, diz Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio.
E é chave a postura de Bolsonaro contra as reivindicações dos indígenas na disputa legal de terras agrícolas, nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF).
Lula “deixa claro que apoia a invasão de terras e até falou no debate que o agro era de ‘direita e fascista’, então é natural que o produtor fique com muito receio e olhe para essa candidatura como uma ameaça”, indica Corrêa Carvalho.
Outro medo do agro é que Lula decida criar “impostos às exportações”, seguindo o modelo do governo argentino, acrescenta um consultor que falou sob anonimato.
O grupo de apoiadores fiéis do presidente inclui, ainda, um punhado de empresários – com o milionário Luciano Hang à frente -, investigados pelo STF após o vazamento de conversas em um serviço de mensagens favoráveis a um golpe de Estado em caso de derrota.
Mas também há detratores. Por exemplo, Luis Stuhlberger, um empresário bem sucedido, que assegurou que “nunca mais” vai votar no “psicopata” Bolsonaro.
“O apoio [do empresariado] não era unânime, mas era muito mais forte. Agora está mais dividido” do que em 2018, explica Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do Eurasia Group.
Grandes associações empresariais, entre elas o das indústrias automotiva, química e de comércio exterior, se declararam “apartidárias” à AFP, após terem apoiado publicamente Bolsonaro no passado.
Também houve gestos atípicos, como a difusão de um manifesto em defesa da democracia em resposta aos ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas por parte da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e rubricado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Segundo German, Bolsonaro perdeu, ainda, “credibilidade ao longo de seu mandato, gerando até preocupação com o manejo fiscal, com repetidas mudanças no teto de gastos, e uma péssima reputação fora do país, com uma mancha em termos ambientais”.
Isso, diz o analista, acabou levando alguns líderes de multinacionais e investidores estrangeiros a se inclinarem a favor de Lula.
(Com a AFP)
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