Após a morte de Elizabeth II, que governou o Reino Unido por 70 anos, tem gente se perguntando: como uma monarquia pode ser ainda tão presente na cultura de um povo, em pleno século 21? O Curto foi atrás da resposta.
Poucos são os países no mundo atual em que reis ou rainhas governam. E nenhum deles é tão forte no imaginário coletivo como é a monarquia britânica. E não é para menos: a última rainha do Reino Unido, Elizabeth II – que morreu na última quinta-feira (8) – foi a monarca com mais tempo como soberana de uma nação. Foram 70 anos, quase 2/3 de um século.
Mesmo com a destituição de reis e rainhas ao longo do tempo, e com a substituição de regimes monárquicos por democracias representativas, o Reino Unido permanece firme, governado pela dinastia Windsor – embora os soberanos não ditem mais os rumos políticos e econômicos na Grã-Bretanha, desde que se implantou o parlamentarismo.
No regime parlamentarista, o primeiro-ministro ou a primeira-ministra – e não o rei ou rainha – representam a vontade do povo e decidem os caminhos da nação.
A realeza não é só aceita; ela é admirada na Inglaterra e outros países que formam o Reino Unido.
Em uma pesquisa feita por ocasião do jubileu de platina da falecida rainha Elizabeth II, 62% dos britânicos disseram ser a favor da monarquia e apenas 22% contra.
A comentarista de assuntos reais, Sarah Gristwood, publicou um artigo em 2016 tecendo teorias sobre esse fenômeno no Reino Unido. São elas:
A segunda hipótese é a mais aceita pelos especialistas do tema: os Windsor sempre conseguiram manter a popularidade entre os jovens. É só resgatar alguns exemplos de quando membros da Família Real foram “moderninhos”:
Uma outra pesquisa, feita recentemente pelo instituto Ipsos MORI apontou que para 86% dos britânicos o Reino Unido deve continuar sendo uma monarquia.
Contudo, em outras nações que compõe o Reino Unido, como a Irlanda e Escócia, houve quem comemorasse a morte de Elizabeth II. Portanto, não são todos os súditos da rainha que estão felizes em viver sob uma monarquia, mesmo que ela seja apenas teatral.
Em 1917, a família real britânica era conhecida por Saxe-Coburg e Gotha, mas alteram o nome pelas críticas e ligação da realeza com os alemães, desde então são Windsor.
Muito da aceitação – e porque não dizer adoração – da monarquia pelos súditos britânicos se deve à imagem forte e ao mesmo tempo serena que Elizabeth II imprimiu ao longo de 70 anos. Foram muitas crises, guerras (incluindo a 2º Guerra Mundial, quando ainda era princesa), depressões econômicas e tensões diplomáticas. Mas Elizabeth estava sempre presente.
Em 1942, ainda princesa Elizabeth, participou do primeiro compromisso público em meio à guerra: inspecionou um regimento de infantaria do Exército britânico e se tornou “coronel-honorária” da tropa, como conta reportagem da BBC Brasil.
Antes, em outubro de 1940, durante a pior onda de bombardeios alemães contra a Grã-Bretanha, Elizabeth fez um primeiro pronunciamento público transmitido pelo rádio, dirigido às crianças britânicas que haviam sido enviadas à América do Norte para escapar da guerra. A mensagem ganhou a simpatia do público americano em favor da entrada do país na Segunda Grande Guerra.
Qual é o papel de uma rainha (ou rei) que não decide os rumos políticos?
À rainha (ou rei) cabe ouvir, aconselhar e também dar direcionamentos ao primeiro-ministro do Reino Unido. “Essa definição clara dos papeis fez com que Elizabeth II se mantivesse de maneira harmônica com esse sistema de governo”, explicou o pesquisador e especialista em Realeza Britânica, Renato de Almeida Vieira, ouvido pela CNN Brasil.
Você sabia que a rainha Elizabeth II foi a primeira rainha a ser coroada, ao vivo, na televisão?
Mesmo nas últimas décadas, com Lady Di, a realeza quebrava alguns protocolos para “aproximar” os soberanos da família real. Na morte de Diana, Elizabeth II ouviu os súditos e deu um funeral Real para a ex-nora, que não tinha mais nenhum vínculo com a família real, desde que se separou de Charles. Essas e outras “delicadezas” da soberana inglesa ajudaram a consolidar a monarquia britânica no coração dos súditos.
O pesquisador da história moderna britânica, Andrew Thompson, da Universidade de Cambridge, afirma que “é uma tentativa da monarquia de não se mostrar uma estrutura tão engessada e prepará-la para o século 21”.
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